Jovens pretos ou pardos já representam 55% dos estagiários contratados no país, mostra um estudo do Ministério do Trabalho e Emprego que reflete as políticas afirmativas de diversidade adotadas por grandes empresas. Desde 2020, empresas como Magalu, Itaú, Bayer e Basf passaram a oferecer programas específicos para a contratação de estagiários negros.
No primeiro trimestre deste ano, havia 877 mil estagiários no país, uma alta de 35% em relação a 2023 (642 mil). Nessa conta, as mulheres também se destacam: 64% dos estagiários são mulheres. E 75% têm ensino superior ou estão cursando a faculdade.
Os programas de estágio representam a elite das vagas oferecidas para jovens de 14 a 24 anos no país. Ainda segundo o estudo do Ministério do Trabalho, existem 34 milhões de jovens nessa faixa etária, dos quais 14 milhões estão empregados. Destas vagas, apenas 1,9 milhão são de ocupações técnicas ou de maior qualificação, em áreas como saúde, informática, comunicação ou ligadas à atividades culturais, dentre as quais se inserem as vagas de estágio.
Atividades de baixa qualificação como balconista, vendedor, atendente de lanchonete, repositor de estoque, motoboy, babá, pedreiro ou agricultor são a realidade para 41% dos 14 milhões de jovens ocupados no mercado de trabalho.
Além da baixa qualificação, 45% estão no mercado informal, sem carteira assinada — ante uma informalidade menor, de 40%, na população ocupada no país como um todo.
Os jovens de 14 até 24 anos representam 17% da população brasileira: dos 34 milhões, metade (49%) é mulher e 60% são negros (pretos e pardos). Destes, 11,6 milhões têm o privilégio de só estudar. Outros 3,2 milhões estão entre empregos ou procurando se recolocar. Já o contingente que não estuda, não trabalha, nem procura trabalho soma 5,4 milhões — número que aumentou 35% em um ano. Em 2023, os nem nem eram 4 milhões.
Esta realidade “nem nem” afeta mais as mulheres: 60% daqueles que estão fora do mercado de trabalho e deixaram de estudar são mulheres, a maioria com filhos pequenos. E 68% são negros.
— A pandemia foi um período difícil para o mercado de trabalho para os jovens e muitas mulheres fizeram escolhas que as levaram a ter filhos. O fato de estarem em casa não significa que não estão cumprindo uma função social importante. Elas fazem um trabalho não remunerado e há que se ter um reconhecimento social pela condição de mãe — diz Paula Montagner, subsecretaria de Estatísticas e Estudos do Trabalho. — Uma parte importante das meninas concluiu o ensino médio, mas não têm renda para continuar a estudar. Elas precisam de uma política pública que permita que elas voltem a estudar e possam trabalhar, com creche de oito horas para as crianças —.
Os dados mostram que a informalidade entre os jovens afeta as mulheres de forma mais acentuada. Elas representam 42% do contingente de 14 milhões de jovens ocupados. Mas dentre os jovens ocupados na informalidade, elas são 51%.
APRENDIZ
Desde 2011, o número de jovens inseridos no programa de Jovem Aprendiz dobrou: hoje são 602 mil. E o número vem crescendo no pós-pandemia. Hoje são 100 mil a mais do que em 2022. A maioria dos aprendizes (59%) não concluiu o ensino médio e 63% têm até 17 anos. E as ocupações que mais crescem são assistentes administrativos, alimentadores de linha de produção e auxiliares de logística e operadores de caixa.
A política pública do trabalho de Aprendiz formaliza o jovem, permitindo que ele continue a estudar. Porém, o perfil das vagas, explica Montagner, é do tipo “que paga as contas”, “mas não tende a apontar para caminhos futuros”.
— É fundamental elevar a escolaridade dos jovens e que a experiência de trabalho, seja no estágio ou na aprendizagem, seja de boa qualidade e formalizado — diz Paula.
O estudo do MTE foi divulgado nesta terça-feira (28) em um evento sobre empregabilidade jovem em parceria com o Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE), ONG de inclusão social e empregabilidade jovem da América Latina.
Fonte: O Globo
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