A crença generalizada de que tentar suprimir pensamentos negativos prejudica a saúde mental —comumente mantida por psicólogos clínicos— está errada, de acordo com um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Cambridge.
Os neurocientistas Zulkayda Mamat e Michael Anderson treinaram 60 voluntários de todo o mundo para bloquear e, se possível, esquecer pensamentos angustiantes, em sessões online ao longo de três dias.
Isso produziu uma melhora significativa em seu estado de espírito e reduziu os sentimentos de depressão, que persistiram quando os participantes foram avaliados novamente três meses depois.
Um grupo de controle separado de 60 pessoas, que usou a mesma técnica para suprimir pensamentos neutros em vez de negativos, experimentou menos melhora no bem-estar mental. Os resultados foram publicados na quarta-feira na revista Science Advances.
“Todos estamos familiarizados com a ideia freudiana de que se suprimirmos nossos sentimentos ou pensamentos, então esses pensamentos permanecem em nosso inconsciente, influenciando nosso comportamento e bem-estar de forma perniciosa”, disse Anderson. “O objetivo da psicoterapia é trazer à tona esses pensamentos para que possamos lidar com eles e roubar seu poder.”
Tornou-se dogma na psicologia clínica que os esforços para banir pensamentos ou memórias de um assunto específico eram contraproducentes e faziam as pessoas pensar mais neles, disse ele. “Desafiamos a visão de que a supressão de pensamentos piora doenças mentais.”
suas mentes, disse ela. Muitos ficaram tão impressionados que continuaram a usar a técnica em suas vidas cotidianas após o término do estudo.
Os pesquisadores planejam continuar seu trabalho com estudos mais extensos usando um aplicativo projetado para auxiliar na supressão de pensamentos.
Mamat disse que a pesquisa não deve minar todo o campo da psicoterapia, mas “oferecer uma alternativa para as pessoas quando expressar seus sentimentos em terapias verbais não está funcionando. Honestamente, algumas coisas devem ser esquecidas.”
Noel Bell, um psicoterapeuta baseado em Londres representante do Conselho do Reino Unido para Psicoterapia, disse: “Este é um artigo potencialmente inovador que vira de cabeça para baixo os princípios da psicoterapia convencional. Certamente levantará debate na profissão.”
Bell disse que aguarda com expectativa que os resultados do estudo de Cambridge sejam confirmados e expandidos em pesquisas futuras.
María Cantero-García, psicóloga da Universidade Autônoma de Madrid que não participou do estudo, disse que mais pesquisas são necessárias “para entender completamente as implicações desses resultados”.
“Esse estudo pode oferecer ferramentas adicionais para ajudar as pessoas a lidar efetivamente com seus pensamentos, sempre levando em consideração as circunstâncias e o contexto. No entanto, é essencial que os terapeutas continuem avaliando cada situação individualmente em sua prática clínica.”
Fonte: Folha de São Paulo
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