O Banco Central confirmou, nesta terça-feira, que uma redução de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros pode só ocorrer na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em maio, devido a incertezas sobre o comportamento da inflação. A partir de junho, a expectativa do mercado financeiro é que o ritmo dos cortes deve ser menor.
A sinalização está prevista na ata da última reunião do Copom, divulgada, nesta terça-feira, pela autoridade monetária. Na semana passada o colegiado fez a sexta redução consecutiva na Selic. Com isso, a taxa básica de juros chegou a 10,75% ao ano.
Na reunião, alguns membros do colegiado argumentaram que, se persistirem as incertezas elevadas no futuro, “um ritmo mais lento de distensão monetária” pode se revelar apropriado. Para o economista-chefe da G5 Partners, Luís Otávio Leal, essa observação foi um recado.
— Se as incertezas tanto internas quanto externas continuarem altas como estão agora, provalemtne o Copom vai reduzir o rito para 0,25 ponto percentual — disse Leal.
“O Comitê reforça a necessidade de perseverar com uma política monetária contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”, diz um trecho da ata.
As expectativas de inflação para 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 3,8% e 3,5%, respectivamente. O levantamento e realizado com as principais instituições do mercado pelo BC.
Desde agosto do ano passado, o ciclo de cortes é marcado por uma queda de 0,5 ponto percentual a cada reunião do Copom A expectativa do mercado financeiro é que a taxa de juros continue caindo, mas a um ritmo menor.
No comunicado da última reunião do Copom, o Banco Central previu mais um corte de 0,5 ponto em maio. Porém, a grande mudança é que a autoridade monetária deixou de usar o plural e passou para o singular, indicando apenas mais uma redução.
O BC indicou que a continuidade de cortes em 0,5 ponto percentual pode ser interrompida diante do cenário de retomada da inflação no país, trazida, principalmente, pelo reaquecimento do mercado e elevação do Produto Interno Bruto (PIB). A sinalização de queda no ritmo de cortes ocorreu, quando o comunicado descreveu que uma nova redução nessa magnitude vai ocorrer “na próxima reunião”, no singular.
Nos últimos comunicados, o BC falava em “próximas reuniões”, indicando pelo menos mais duas reduções de 0,5 pp. Agora, só há clareza para mais um corte de 0,5 pp, na reunião de maio. A decisão foi unânime entre os diretores do BC.
“O Comitê avalia que o cenário-base não se alterou substancialmente. Em função da elevação da incerteza e da consequente necessidade de maior flexibilidade na condução da política monetária, os membros do Comitê, unanimemente, optaram por comunicar que anteveem, em se confirmando o cenário esperado, redução de mesma magnitude na próxima reunião. O Comitê avalia que essa é a condução apropriada para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”, destaca a ata do BC.
A decisão do Copom sobre a taxa básica de juros acontece em um cenário com a economia ainda aquecida — o que pode pressionar a inflação. Dados recentes divulgados sobre o PIB do ano passado, mostram criação de empregos e elevação da atividade econômica no começo de 2024, colocando em dúvida o impacto disso na inflação e no ritmo de queda da Selic. O IPCA de fevereiro mostrou relativa alta, com a inflação em 12 meses alcançando o teto da meta do BC: 4,5%.
“O Comitê enfatiza que a magnitude total do ciclo de flexibilização ao longo do tempo dependerá da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular daquelas de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”, destaca o Banco Central.
Segundo o documento, a queda de 0,5 ponto foi decidida após uma análise em que se considerou a evolução do processo de “desinflação”, os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis. Para o colegiado, a medida é compatível com a estratégia de convergência da inflação para a a meta (3%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para mais e para menos).
Segundo a ata do Copom, o ambiente externo continua volátil. Os bancos centrais das principais economias, destacou o BC, permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho.
“O Comitê avalia que o cenário segue exigindo cautela por parte de países emergentes”, diz o documento.
No âmbito doméstico, o conjunto de indicadores recentes de atividade econômica segue consistente com o cenário de desaceleração da economia esperado pelo Comitê. “Observa-se alguma moderação no crescimento econômico, mas com maior dinamismo em alguns indicadores na margem, enquanto o mercado de trabalho segue aquecido e com aceleração nos rendimentos reais”.
Fonte: O Globo
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