O Banco do Brasil suspendeu a oferta de crédito consignado para aposentados e pensionistas do INSS via correspondentes bancários. A Coluna do Broadcast apurou, com pessoas ligadas ao tema, que a suspensão se dá pela inviabilidade da modalidade via correspondentes com o novo nível da taxa Selic.
Na quarta-feira, 11, o Banco Central adicionou 1 ponto porcentual à taxa básica de juro da economia, elevada a 12,25%, e previu novas altas de mesmo nível nas duas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom).
O BB é líder no crédito consignado, e, se consideradas todas as linhas, tinha carteira de R$ 137,2 bilhões no final de setembro, alta de 11,2% em um ano. Conforme apurou a Coluna do Broadcast, o consignado via correspondentes é perto de 20% da oferta do banco no INSS e tem predominância de contratação entre indivíduos de menor renda.
Procurado, o BB confirmou a suspensão. “A suspensão afeta somente os correspondentes bancários. A linha segue disponível nos demais canais”, afirmou o banco em nota.
O consignado do INSS tem teto de juros de 1,68% ao mês (22,13% ao ano), determinado pelo Conselho Nacional de Previdência Social (CNPS), ligado ao Ministério da Previdência. Desde o começo do ano passado, o teto foi reduzido em oito ocasiões, com o CNPS argumentando que a queda da Selic permitia cobrar juros mais baixos.
A mais recente queda do teto, em maio, ocorreu quando a Selic estava em 10,50% ao ano e em ciclo de queda. Em março do ano passado, quando o CNPS baixou de uma vez de 2,14% para 1,70% os juros, todos os bancos suspenderam a oferta em todos os canais, inclusive o Banco do Brasil e a Caixa.
Na Caixa, também controlada pelo governo, a distribuição de canais não deve mudar. De acordo com pessoas a par do planejamento, a concessão de consignado INSS pelo banco via correspondentes é residual, e a Caixa usa tanto a rede de agências e o online quanto as lotéricas. Com isso, tem despesa de comissionamento menor.
A Coluna do Broadcast apurou que uma nova reunião do CNPS deve ser feita na primeira quinzena de janeiro. Operadores do setor afirmam que é insustentável manter o teto no patamar atual, o que deve pressionar pela discussão do tema.
Os bancos argumentam que o cálculo do CNPS não se sustenta. De acordo com as instituições, os custos de captação da linha subiram mesmo com a queda da Selic porque estão atrelados aos juros futuros de 48 meses, que tiveram alta no período com as preocupações sobre as contas públicas brasileiras.
Essa pressão teria ficado maior com as altas da Selic neste ano. Um executivo do banco público, ouvido reservadamente, afirmou que a sinalização do BC de que elevará os juros em mais 2 pontos porcentuais nas próximas reuniões do Copom pode inviabilizar inclusive a oferta nos canais próprios do BB, em que o custo é mais baixo porque não há pagamento de comissão.
Na quarta-feira, 11, no comunicado do Copom, o BC indicou que a Selic pode subir até 14,25% até março de 2025. Da última vez em que a taxa esteve nesse nível, em agosto de 2016, a taxa média de juros do consignado do INSS era de 30,3% ao ano, segundo dados da autarquia. Em outubro deste ano, a taxa média cobrada era de 21,6%, quase 9 pontos porcentuais menor.
O que diz o BB em nota
O Banco do Brasil confirmou, por meio de nota, a “suspensão temporária” das contratações de empréstimo consignado para beneficiários do INSS por meio de correspondente bancário.
“O BB comunica, nesta data, a suspensão temporária das contratações de empréstimo consignado para beneficiários do INSS no Canal Correspondente Bancário. Esta medida está em conformidade com a Resolução CMN 4.935/2021, que exige a viabilidade econômica das operações realizadas por este canal”, diz o banco.
Segundo o BB, o crédito consignado ainda pode ser contratado por meio do aplicativo, terminais de autoatendimento, internet ou em qualquer agência do banco. Mais cedo, o banco já havia informado que a suspensão afetaria apenas correspondentes bancários.
Fonte: Estadão
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