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Após recuperação e lucro em alta em 2024, resultado dos bancos deve desacelerar neste ano

Concessão de crédito deve frear em 2025, e analistas temem nova alta da inadimplência

postado Luany Araújo

O ano de 2024 foi de recuperação para os quatro grandes bancos do país listados em Bolsa, que reorganizaram sua operação —alguns, com toques finais, e outros ainda em começo de obra para reestruturar a operação após o salto na inadimplência pós-pandemia.

Juntos, Banco do BrasilBradescoItaú e Santander Brasil somaram um resultado contábil de R$ 108 bilhões no ano passado, o maior lucro nominal de sua história, segundo a consultoria Elos Ayta. O dado é um avanço de 18,6% em relação a 2023. Em termos reais, considerando a inflação, é o segundo melhor resultado da história, perdendo por cerca de R$ 500 milhões para 2019.

A melhora no lucro, porém, deve desacelerar neste ano, dado o cenário macroeconômico mais desafiador.

“2025 vai ser um ano morno [para o setor], com a alta da Selic, e a inflação subindo acima da massa salarial, o que é ruim para a inadimplência geral”, diz Eduardo Nishio, analista da Genial Investimentos.

De acordo com a pesquisa Focus, a inflação deve chegar a 5,6% neste ano e a Selic deve ir a 15%. Estes fatores, somados à alta do dólar e à desaceleração da economia, podem elevar as contas em atraso, o que prejudica os resultados dos bancos.

Segundo a Febraban (Federação Brasileira de Bancos), o índice de contas com mais de 90 dias de atraso terminou 2024 em 4,1% e deve subir a 4,6% em 2025, apesar de uma maior cautela dos bancos na concessão de crédito.

A previsão do setor é de que o crédito irá crescer 8,5%, uma desaceleração ante a alta de 10,9% de 2024, de acordo com dados do Banco Central.

As novas concessões devem ser puxadas pelo agronegócio, que prevê safra recorde em 2025, e pelo crédito consignado privado, chamado de revolucionário por CEOs dos bancos. Estimativas do setor indicam que este novo produto tem potencial de aumentar em R$ 80 bilhões o volume de empréstimos nessa modalidade, que chegaria a R$ 120 bilhões.

O plano do governo Lula é iniciar a nova operação do consignado pelo eSocial, em março. A iniciativa é uma das medidas para impulsionar o crédito e o consumo em um cenário de juros e dólar altos e de queda da popularidade do presidente.

Outra frente de crescimento é a rentabilização de clientes alta renda, mais resilientes à piora da economia. Bradesco, Santander e Banco do Brasil estão reestruturando suas redes para capturar esse público. Foi esse segmento que ajudou o Itaú a ter a maior lucratividade entre os quatro no ano passado.

Apesar destes três pontos de expansão do setor, em suas estimativas de desempenho, os grandes bancos são cautelosos quanto a este ano e projetam crescimento de lucro abaixo do visto em 2024.

 

BANCO DO BRASIL

Banco do Brasil teve um lucro líquido ajustado de R$ 37,9 bilhões em 2024, um crescimento de 6,6% em relação ao ano anterior.

Entre os quatro grandes bancos, o BB apresentou o menor crescimento percentual em 2024, com alta de 4,8% em relação ao ano anterior. Já o Santander teve a maior expansão, com avanço de 50,2%, seguido pelo Bradesco, que cresceu 26,2%, e pelo Itaú Unibanco, com 20,6%.

A rentabilidade do banco estatal medida pelo ROE (retorno sobre patrimônio líquido anualizado) caiu de 21,6% para 21,4% na comparação anual.

Do fim de 2023 para o fim de 224 a inadimplência do banco aumentou de 2,9% para 3,3% da carteira, puxada pelos atrasos de clientes do agronegócio, carro-chefe do banco, com quebra na safra de soja. Neste recorte, os atrasos subiram de 0,96% para 2,45%.

A estimativa da Genial é que o lucro do BB cresça apenas 2,9% em 2025, abaixo da inflação.

BRADESCO

Já o Bradesco teve um lucro líquido recorrente de R$ 19,554 bilhões em 2024, um ganho de 20% em relação ao ano anterior. O ROAE (retorno recorrente gerencial sobre o patrimônio líquido médio anualizado) subiu de 11,3% para 11,7% do terceiro trimestre para o quarto. Em relação ao fim de 2023, o ganho foi de 1,7 ponto percentual.

O Bradesco tenta recuperar a sua forma pré-pandemia, quanto o ROAE era superior a 20%, com um novo presidente desde novembro de 2023. Além de mudanças estruturais internas, com troca de diretoria, a instituição está remodelando seus produtos, com maior foco nos mais rentáveis e menos arriscados.

A margem financeira evidencia a estratégia. Ela somou R$ 63,726 bilhões em 2024, uma queda anual de 2,3%. No entanto, a margem financeira líquida subiu 32,7% no mesmo período, para R$ 34 bilhões.

Ao divulgar o resultado, os executivos do banco sinalizaram que irão frear a trajetória de recuperação para não comprometer a qualidade do crédito. Dessa forma, o Goldman Sachs projeta que o crescimento do lucro do banco deve desacelerar para 14% este ano.

ITAÚ

Itaú Unibanco teve um lucro líquido recorrente gerencial de R$ 41,4 bilhões em 2024. O resultado é 16,2% maior que o registrado em 2023, e é o maior já registrado por um banco brasileiro, em termos reais, segundo levantamento da Elos Ayta.

O ROAE (retorno recorrente gerencial sobre o patrimônio líquido médio anualizado), indicador de rentabilidade do banco, terminou o ano passado em 22,2%, uma alta anual de de 1,2 ponto percentual.

Com isso, a instituição retoma a liderança em lucratividade entre os gigantes do setor, posição que havia sido ocupada pelo Banco do Brasil nos dois anos anteriores (2022 e 2023).

A Genial espera um crescimento de 8,7% no resultado do banco este ano.

SANTANDER BRASIL

Santander Brasil, que também sofreu com a inadimplência no pós-pandemia, se recuperou em 2024 e teve um lucro líquido gerencial de R$ 13,872 bilhões, uma alta de 50,2% em relação a 2023, quando o resultado do banco (R$ 9,4 bi) veio aquém do esperado pelo mercado.

A rentabilidade do banco também melhorou. O ROAE (Retorno Sobre Patrimônio Médio, na sigla em inglês) indo a 17,6% no fim do ano passado, um ganho anual de 5,3 pontos percentuais.

Em 2022, primeiro ano sobre o comando do atual CEO, Mario Leão, a rentabilidade foi de 16,3%. Na gestão anterior, de Sérgio Rial, o mesmo indicador ficava acima de 20%.

O mercado espera que o ROAE volte a casa dos 20% em 2026. Para 2025, a Genial calcula um crescimento de 11,9% no lucro do banco.

 

Fonte: Folha de S.Paulo

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