Os maiores bancos privados do País aceleraram os fechamentos de agências físicas em 2024, ampliando o encolhimento das redes ao longo da última década. O ritmo foi ampliado diante da migração das transações para os ambientes digitais, mas principalmente pela redução da rentabilidade das operações voltadas a clientes de menor renda, mais atingidas pela competição com bancos digitais e pela inadimplência.
No ano passado, Itaú Unibanco, Bradesco e Santander Brasil encerraram em conjunto 856 agências, após fecharem 679 em 2023. Desde 2014, a rede dos três perdeu mais de 5 mil endereços, número que considera somente agências tradicionais. Se incluídos outros postos de atendimento, a redução é maior.
Os fechamentos em 2024 foram puxados pelo Bradesco. Em reestruturação, o segundo maior banco privado do País tem dito que o segmento de baixa renda precisa de um ajuste na presença física para ser rentável de forma sustentável. “Mesmo assim, a nossa base de clientes cresceu em 2,1 milhões em 2024, e 99% das nossas transações foram feitas pelo digital”, disse o presidente do banco, Marcelo Noronha, em entrevista à imprensa no começo do mês.
O Santander também tem sinalizado uma redução mais forte. “Se extrapolarmos para mais de um ano, em 2025, vamos ter reduzido entre 40% e 50% a nossa rede física em um espaço temporal relativamente curto”, disse o presidente do conglomerado, Mario Leão, em conferência com analistas. No ano passado, o Santander desatrelou as carteiras de clientes das agências.
Ganho a longo prazo
Embora o objetivo dos bancos seja reduzir custos, a redução demora a aparecer. “Os fechamentos têm dois efeitos: trazem custos adicionais, e especificamente no caso do Bradesco, o banco está abrindo escritórios para pequenas e médias empresas e para o Principal (novo segmento de alta renda)”, diz o analista de instituições financeiras do Citi, Gustavo Schroden.
Esse descasamento se reflete nas previsões das instituições para este ano. O Itaú espera um crescimento de despesas de 5,5% a 8,5%, em meio a investimentos no digital. Por outro lado, estima ter obtido um alívio de R$ 2,6 bilhões nas despesas em 2024 graças ao programa de eficiência.
O Bradesco, que também tem acelerado investimentos, projeta alta de 5% a 9% nas despesas em 2025, puxada também pela contratação de milhares de profissionais em tecnologia, que têm salários médios superiores aos dos bancários.
Desde o ano passado, o banco da Cidade de Deus separou R$ 1,013 bilhão para os custos com o fechamento de agências. Os outros bancos não informam o valor gasto na reestruturação da rede, mas têm sinalizado um reforço dos investimentos em tecnologia para dar maior robustez aos canais digitais.
Matheus Guimarães, analista de instituições financeiras da XP, afirma que os dois processos andam juntos porque os bancos precisam ter a capacidade de transferir os serviços das agências para o digital. “Parte dos processos ainda era realizada dentro da agência, como as cobranças. À medida que alguns desses processos são plenamente digitalizados, os bancos ficam mais confiantes para acelerar esse processo de fechamento”, diz.
Digital e físico
O Banco do Brasil foi exceção: no ano passado, manteve a rede física do mesmo tamanho, em uma estabilidade que dura três anos após uma série de fechamentos desde 2014. O banco público afirma que a estrutura física é importante, mas que precisa ser integrada ao digital, e começou a testar um novo modelo de agência, o Ponto BB, que faz essa mistura. Um ponto foi aberto no Recife em 2024, e outro deve ser aberto em Belém neste ano.
“Não dá para imaginar que em um País como o Brasil, todos os clientes se autoatenderão digitalmente, mas também não dá para imaginar que nas regiões, não vai haver clientes que usem o digital”, disse a presidente do BB, Tarciana Medeiros, em entrevista na quinta-feira, 20.
Dos quatro bancos, o BB teve o melhor índice de eficiência em 2024, de 25,6%. O pior foi o do Bradesco, de 52,2%. O indicador mede quanto da receita total é consumido pelas despesas, e, portanto, um número mais baixo indica uma eficiência maior.
No ano passado, o BB investiu R$ 2,2 bilhões em tecnologia e digital, alta de 60% em relação a 2023. Já o Itaú informou que R$ 2,3 bilhões do aumento de despesas em relação ao ano anterior vieram da aplicação de recursos nos negócios e em tecnologia. A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) estimou no ano passado que os bancos investiriam R$ 47,4 bilhões em tecnologia, 21% a mais que em 2023.
Fonte: Estadão
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