O governo e os bancos ainda não conseguiram chegar a um acordo para reduzir os juros do rotativo do cartão de crédito, modalidade com a maior taxa do mercado. O Banco Central do Brasil(BC) participa das conversas, que vêm na esteira do programa Desenrola Brasil, de renegociação de dívidas e que teve início nesta semana.
O Desenrola também foi fruto de uma negociação com o setor financeiro. O governo, agora, vê uma maior resistência das instituições nas medidas para o rotativo.
Em maio, último dado disponível, a taxa média de juros cobrada pelos bancos nas operações com cartão de crédito rotativo foi de 455,1% ao ano, de acordo com o BC. É o maior patamar em seis anos. O crédito rotativo é acionado por quem não pode pagar o valor total da fatura do cartão na data do vencimento.
Uma das principais propostas levadas pelo setor financeiro foi acabar com a possibilidade de parcelamento sem juros, mas isso foi rechaçado pelos integrantes do Executivo. Integrantes do Ministério da Fazenda também descartam tabelamento de juros.
A redução dos juros do rotativo do cartão de crédito está entre as prioridades do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. De acordo com interlocutores do sistema financeiro, porém, as altas taxas cobradas na modalidade não são um tópico simples de ser resolvido. Eles dizem que o governo e os bancos ainda estão longe de chegar a uma solução. O mercado é complexo, com diferentes atores envolvidos, como bancos, credenciadores e lojistas, e qualquer movimento impacta essa cadeia.
Parcelamento sem juros
Ou seja, segundo essa visão, encarece as compras ao mesmo tempo em que cria condições para mais pessoas entrarem no rotativo do cartão de crédito. O governo, porém, não vê chances de acabar com o parcelamento sem juros porque acredita que isso vai prejudicar os mais pobres e os lojistas. Além disso, assinala que nada impede o pagamento à vista com desconto — o que depende do vendedor e do banco.
Executivos dos bancos chegaram a propor acabar com o parcelamento de compras no cartão de crédito sem juros. Essa modalidade praticamente só existe no Brasil. Para interlocutores das instituições, esse modelo tem uma série de problemas. Cria um subsídio cruzado ao embutir (na própria tarifa) uma espécie de “prêmio” para eventual inadimplência e por conta do parcelamento. E acaba estimulando o rotativo, gerando uma “bola de neve”.
O BC também não vê o fim do rotativo como saída. Hoje, quando um cliente passa 30 dias no rotativo, os bancos são obrigados a negociar a dívida. A portabilidade dessa dívida é uma das medidas que estão sendo discutidas — de forma a permitir que o cliente migre para um banco com juros menores. O impacto disso, porém, tende a ser limitado.
Outra possibilidade avaliada nas últimas semanas é oferecer taxas mais acessíveis a devedores pontuais. É como um “socorro” para quem raramente cai no rotativo. Mas ainda não há consenso sobre isso e também sobre os seus impactos. Há dúvidas sobre quais taxas poderiam ser usadas, por exemplo, e qual recorte fazer.
Inadimplência de 40%
Nas reuniões, foi sugerido também ampliar a comunicação para a população sobre o risco de tomar um crédito com juros de mais de 400% ao ano. Isso poderia ser feito por campanhas.
Fonte: O Globo
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