Com alta no crédito e subida dos juros, instituições faturaram mais graças ao retorno das atividades econômicas após a pandemia da covid-19
Os quatro maiores bancos listados do Brasil encerraram o segundo trimestre deste ano com lucro líquido de R$ 26,6 bilhões, alta de 20,5% em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com levantamento feito pelo Broadcast. O resultado, no primeiro semestre, foi de R$ 51,406 bilhões, 17,2% maior que o do mesmo intervalo do ano passado.
Os números do trimestre foram puxados pelo Banco do Brasil, que teve um salto de 54,8% no resultado, para R$ 7,803 bilhões, e pelo Itaú Unibanco, que no segundo trimestre lucrou 17,4% a mais que no ano passado, ou R$ 7,679 bilhões. O Bradesco teve ganhos 11,4% maiores, de R$ 7,041 bilhões. O Santander Brasil, por sua vez, teve lucro 2,1% menor, de R$ 4,084 bilhões.
Guardadas as diferenças de composição de carteira de crédito, os resultados dos bancos refletiram um crescimento de receitas suficiente para compensar o maior custo de crédito. As instituições faturaram mais graças ao retorno das atividades econômicas após a pandemia da covid-19, que ampliou os índices de emprego da população e abriu espaço para concessões de crédito em linhas mais arriscadas.
Os cartões de crédito são um exemplo. No Itaú, líder de mercado, a carteira cresceu 43,1%. O produto aparece tanto nas receitas com serviços dos bancos, que arrecadam com anuidades e tarifas de intercâmbio, quanto na carteira de crédito. Nesta última, é um importante indicativo do apetite do consumidor, dado que é utilizado para compras.
Neste trimestre, o desempenho dos cartões também sinaliza outro fenômeno: a inflação, que leva o consumidor a desembolsar mais nas compras. “Algumas carteiras são movidas por inflação. Em cartões, boa parte do crescimento é pela inflação”, disse o presidente do Itaú, Milton Maluhy, em coletiva de imprensa.
O Itaú elevou as projeções para a carteira de crédito neste ano, e agora espera um crescimento de até 21% no Brasil. Maluhy afirmou que boa parte dessa mudança veio do efeito da inflação sobre os saldos. O BB também elevou a expectativa, para crescimento de até 16%, e o mercado deve buscar, na teleconferência, mais detalhes sobre o ajuste na projeção.
Os bancos esperam, porém, que o crédito desacelere até o final do ano. Além da base comparativa mais alta do segundo semestre, as condições econômicas desafiadoras e o próprio período eleitoral devem afetar os números.
“Há uma cautela natural, porque as carteiras que mais crescem são as que têm maior risco, como cartão de crédito, crédito pessoal”, afirmou o presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Junior. Ele ressaltou que o crédito de longo prazo, o que inclui os financiamentos imobiliário e a investimentos do setor produtivo, dificilmente acelerará neste ano. “Com 14% de juros, tomar crédito de longo prazo é mais difícil.”
Carrego para 2023
Analistas de mercado esperam que o crescimento das margens dos bancos neste ano, aliado a um aumento da eficiência com a maior participação do atendimento digital, gere um efeito carrego que ajudará a manter os lucros em patamares robustos no ano que vem. No crédito, o ritmo deve ser mais lento, e os bancos estão ajustando as concessões.
Lazari, do Bradesco, disse que neste momento, não há a necessidade de restringir mais a concessão de crédito. O banco acredita que o ciclo de alta da Selic se encerrou (ou quase isso), e que o ano que vem deve trazer algum alívio em indicadores como emprego e renda da população. A instituição está de olho, porém, na volatilidade que os próximos meses podem gerar. “Isso é algo que temos que pilotar, ficar de olho todo dia. Não tem outro jeito”, afirmou.
Maluhy, do Itaú, disse que há três fatores que geram cautela para 2023. O primeiro é o fato de que os bancos centrais dos Estados Unidos e da Europa estarão em pleno ciclo de aperto monetário, condição que tende a tirar dinheiro de países emergentes. O segundo é o efeito da própria política monetária contracionista no Brasil. O terceiro, e não menos importante, são as decisões do governo que tomar posse em janeiro, seja ele qual for. “Entender a política fiscal será importante para definir os juros”, afirmou. O Itaú, de acordo com ele, mantém o pé no freio em determinadas linhas de crédito, após perceber que os riscos aumentaram.
Fonte: Estadão
www.contec.org.br