O Ministério da Fazenda e o Departamento do Tesouro dos EUA assinaram nesta sexta-feira a Parceria para o Clima, com o objetivo de coordenar esforços para mitigar os efeitos das mudanças climáticas, seja na definição de políticas públicas ou nas negociações diplomáticas.
A parceria foi firmada, no Rio, pelo titular da Fazenda, Fernando Haddad, e pela secretária do Tesouro americano, Janet Yellen, às margens do encontro de ministros de finanças do G20, no Rio.
A cidade sediou esta semana uma série de reuniões do grupo formado pelas maiores economias do mundo, mais a União Europeia e a União Africana. O Brasil está neste ano na presidência temporária do fórum diplomático — o Rio receberá a reunião de cúpula dos líderes dos países, em novembro.
Yellen cita enchentes do Rio Grande do Sul
Uma declaração conjunta publicada logo após a assinatura da parceria, no hotel na Barra onde ocorre o encontro de ministros de finanças do G20, começa lembrando das enchentes que assolaram o Rio Grande do Sul em abril, que “tiveram um impacto devastador”.
Yellen disse que tragédias como as enchentes mostram a ameaça que as mudanças climáticas representam para o mundo — os dois ministros fizeram declarações à imprensa após a assinatura da parceria, mas não responderam a perguntas.
— Nossos países compartilham o compromisso com um desenvolvimento sustentável e inclusivo, reconhecendo que, se as duas maiores economias do Hemisfério Ocidental avançam no trabalho sobre clima e biodiversidade, podem trazer benefícios não só para ambas economias, mas para a região e a economia mundial — afirmou secretária americana.
Yellen citou políticas em prol da transição para uma economia de baixo carbono que vem sendo lançadas pelo governo Joe Biden.
Haddad destacou a importância de escolher a sustentabilidade socioambiental como área para ampliar a cooperação com o governo americano:
— Essas diretrizes vão se transformar em ações concretas muito rapidamente. Há também não só os interesses dos governos, dos EUA e do Brasil, mas o nosso interesse também é envolver o setor privado dos dois países, para que junto com as agências governamentais, possamos estimular o investimento numa matriz mais limpa e numa transição sustentável, que tenha foco também nas questões sociais.
Conforme a declaração conjunta dos dois governos, a parceria “ajudará a desenvolver políticas e liderará reformas em instituições internacionais em que ambos os países são partes interessadas, de forma que os capitais público e privado sejam mais eficiente e efetivamente empregados para enfrentar os desafios climáticos mais urgentes”.
Parceria tem 4 pilares
A ideia do acordo é que Brasil e EUA trabalhem juntos para buscar “soluções para os desafios ambientais mais urgentes” e “aprimorar a coordenação e a integração, regional e nacional, de nossas economias sustentáveis e resilientes”, em quatro “pilares”:
- Cadeias de suprimento de energia limpa;
- Mercados de carbonos de alta integridade;
- Finanças da natureza e da biodiversidade; e
- Fundos climáticos multilaterais.
O trabalho conjunto, segundo a declaração, se desdobrará na atuação das equipes econômicas brasileira e americana em fóruns multilaterais, como o próprio G20, as reuniões anuais do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI), a Coalizão dos Ministros de Finanças para Ação Climática e as conferências anuais das Nações Unidas sobre as mudanças climáticas.
Embora nem o documento nem as declarações de Haddad e Yellen tenham mencionado valores, a declaração sobre a parceria ressalta que Brasil e EUA querem “apoiar conjuntamente as complementaridades, coerência e ambição da arquitetura financeira climática, incluindo os Fundos de Investimento Climático (CIF), o Fundo Global para o Meio Ambiente, o Fundo de Adaptação (AF) e o Fundo Verde do Clima, entre outros”.
O objetivo, diz o documento, é “melhorar o acesso a financiamento para mercados emergentes e países em desenvolvimento” e “mobilizar finanças dos setores público e privado”.
Os representantes das finanças da África do Sul e dos Estados Unidos reforçaram nesta sexta-feira o interesse em avançar no plano de transição energética justa no continente africano. As falas ocorreram durante reunião bilateral entre o ministro das finanças sul-africano, Enoch Godongwana, e a secretária do Tesouro, Janet Yellen.
África do Sul assume presidência do G20 em 2026
Em 2026, a África do Sul assumirá a presidência anual do G20. O país é hoje o maior emissor de gases de efeito estufa do continente, com alta dependência do carvão.
Yellen explicou que os EUA já estão se preparando para discutir as prioridades econômicas internacionais compartilhadas, conforme a presidência do G20 se desloca do Brasil para a África do Sul.
A secretária enfatizou que o governo americano continuará trabalhando com a África do Sul nos próximos anos para avançar no plano de transição justa no continente.
— A transição para uma energia verde e o suporte com foco em infraestrutura é uma prioridade clara (dos EUA) — disse Yellen.
A representante do governo americano destacou ainda os esforços dos EUA em destinar US$ 667 milhões (cerca de R$ 3,7 bilhões) ao ‘Fundo para Pandemias’, para apoiar países de baixa e média renda a se prepararem para futuras pandemias.
Godongwana destacou o financiamento ao desenvolvimento sustentável como pilar importante a ser endereçado no continente africano.
— Sem acesso à eletricidade, os desafios são enormes. Portanto, é crucial desenvolver tecnologia no continente africano e focar na perspectiva de desenvolvimento sustentável.
Anulação das dívidas de países africanos
O ministro das finanças da África do Sul também saiu em defesa da anulação das dívidas dos países africanos como parte das prioridades a serem endereçadas pelo país no ano que vem.
— Precisamos perguntar: temos a estrutura necessária e como garantir que essa parte do problema seja resolvida? Muitos desses países tem dificuldade em proteger seus investimentos. É importante pensar em maneiras de garantir que eles possam se integrar ao ciclo de investimentos do FMI e trazer de volta os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) à agenda — disse Godongwana.
Fonte: O Globo
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