O Brasil e grandes economias emergentes como China e Índia estão sujeitos a “perdas severas” de produção no longo prazo por conta da realocação do Investimento Estrangeiro Direto (IED) como reflexo do aumento das tensões geopolíticas e uma maior fragmentação no mundo, alerta o Fundo Monetário Internacional (FMI), no relatório Perspectiva Econômica Mundial (WEO, na sigla em inglês), publicado nesta quarta-feira, 5.
As nações avançadas também não estão imunes, o que reforça, na visão do organismo, a necessidade de formuladores de políticas equilibrarem as motivações estratégicas que levam à preferência por fazer negócios em casa ou com países amigos.
Segundo o FMI, interrupções na cadeia de suprimentos e as crescentes tensões geopolíticas na esteira da covid-19 e da guerra na Ucrânia podem remodelar a geografia do IED e, por sua vez, afetar a economia mundial. O Fundo calcula que a realocação do destino dos recursos pode causar uma perda de 2% à produção global no longo prazo.
Os países emergentes tendem a ser mais impactados uma vez que os investimentos estrangeiros diretos vêm de nações desenvolvidas e que estão mais próximas umas das outras, explica o organismo. “O grupo de países particularmente vulneráveis inclui algumas grandes economias de mercados emergentes como Brasil, China e Índia, mas também várias outras, sugerindo que a fragmentação do IED provavelmente será um problema para um grande conjunto de países”, dizem os autores do estudo do FMI JaeBin Ahn, Ashique Habib, Davide Malacrino e Andrea Presbítero.
O Brasil foi o sétimo destino preferido dos investidores internacionais que buscaram países emergentes para alocar seus recursos no ano passado, de acordo com ranking da consultoria internacional Kearney. Melhor colocado na América Latina, o País perde para nações como China, Índia, Emirados Árabes Unidos, Catar, Tailândia e Arábia Saudita.
Neste ano, o IED, que foi rebatizado para Investimento Direto no País (IDP), começou forte, mas perdeu fôlego no Brasil. O País recebeu US$ 6,5 bilhões em fevereiro, um tombo de quase 40% em relação aos US$ 10,8 bilhões registrados em igual intervalo do ano passado, segundo o Banco Central (BC). Em janeiro, o montante havia sido de US$ 6,9 bilhões.
Os impactos da fragmentação do investimento estrangeiro para um grande conjunto de países exige uma “defesa robusta” da integração global, alerta o organismo. E ele vai além. Segundo o Fundo, o aumento nas tensões políticas pode não se restringir ao IED, mas desencadear uma grande realocação de fluxos de capital em nível global. “Uma economia global fragmentada provavelmente será mais pobre.”
Na sua visão, os custos econômicos da fragmentação dos investimentos estrangeiros reforçam a necessidade de formuladores de políticas equilibrarem de “forma cuidadosa” as motivações estratégicas por trás do reshoring e do friend-shoring, ou seja, da priorização de fazer negócios, produzir domesticamente ou apenas com países amigos. Nesta conta, sugere, as nações têm de pesar os impactos para as suas próprias economias e os efeitos colaterais a outros países.
O Fundo defende ainda a adoção de estratégias integradas entre as nações para minimizar as perdas que podem vir a reboque de um mundo mais fragmentado na esteira da covid-19 e da invasão russa à Ucrânia. “Como a incerteza política amplifica as perdas decorrentes da fragmentação, ações multilaterais devem ser tomadas para minimizar essa incerteza, inclusive melhorando o compartilhamento de informações por meio do diálogo multilateral”, avalia.
Fonte: Estadão
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