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Conjuntura política: desafios internos e externos

postado Maria Clara

O segundo semestre de 2025 — e, por que não dizer, também o ano de 2026 — projeta-se como um período de elevada complexidade política, marcado por tensões simultâneas na conjuntura interna e externa do país. No cenário interno, destaca-se o ambiente institucional dividido, com a intensificação da pressão em torno da anistia ao ex-presidente Jair Bolsonaro e o impeachment de Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) — uma pauta que tem acirrado os ânimos entre os Poderes da República.

Essa movimentação recente ocorre em paralelo a uma disputa orçamentária cada vez mais explícita entre o governo federal e os setores alinhados ao mercado, cujos interesses estão fortemente pactuados com a maioria do Poder Legislativo e buscam frear iniciativas voltadas à redistribuição da carga tributária, revisão de reformas estruturantes feitas e ao fortalecimento das políticas sociais.

De um lado, a agenda do governo está ancorada na busca por justiça fiscal para redução das desigualdades, garantir direitos e ampliar programas sociais para classe trabalhadora, por meio de medidas como: ampliar a isenção do imposto de renda; redução de supersalários no serviço público; tributação de lucros e dividendos; corte de incentivos fiscais considerados ineficientes; revisão do regime de aposentadoria militar; taxação sobre os super ricos. Esse conjunto de propostas visa corrigir distorções históricas e ampliar a capacidade do Estado de financiar políticas públicas essenciais.

Do outro lado, há uma reação articulada de setores que defendem uma agenda de austeridade fiscal e contenção dos gastos sociais, propondo: a estagnação do salário-mínimo sem aumento real; a desvinculação de reajustes automáticos de benefícios previdenciários; a limitação de recursos para saúde e educação; além da retomada das reformas previdenciária e administrativa; e a manutenção de privilégios para a elite empresarial, entre eles: a derrubada do IOF, do imposto sobre grandes fortunas na reforma tributária, do fim da desoneração da folha, de isenções fiscais bilionária, do pagamento de IR para lucros e dividendos, aprovação de anistia de dívidas para agronegócio e a metade do orçamento para pagamentos de juros da dívida.

No plano externo, a crise comercial com os Estados Unidos — deflagrada pela imposição de tarifas unilaterais pelo governo Trump sobre produtos brasileiros — impôs ao governo um desafio imediato de articulação diplomática e econômica. A resposta se estruturou em três frentes coordenadas:

1) a primeira, com firmeza na defesa da soberania nacional e rechaço ao anúncio da taxa de 50% sobre produtos importados brasileiros feita pelo presidente Lula, tomada com viés político e avaliada como uma tentativa de interferência em favor do grupo político ligado ao ex-presidente Jair Bolsonaro. No comunicado em que anunciou a tarifa, Trump criticou o processo contra Bolsonaro no STF por planejar um golpe de Estado após as eleições de 2022;

2) a segunda, ancorada no diálogo com o setor produtivo e nas negociações diplomáticas, conduzidas por lideranças como o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento Econômico, Geraldo Alckmin, que organizou uma agenda com o setor empresarial; o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que se posicionou de forma firme contra a implementação de retaliações aos EUA; e os ministros das Relações Exteriores e o assessor especial, Mauro Vieira e Celso Amorim, que pavimentam acordos e agendas diplomáticas; e

3) a terceira, voltada ao combate emergencial dos efeitos econômicos da crise, por meio de políticas de estímulos setoriais e suporte às cadeias produtivas afetadas, em especial as pequenas e médias empresas que geram mais empregos no Brasil.

Embora o recuo parcial das tarifas represente uma vitória para o governo Lula, diversos setores ainda serão inicialmente afetados pelas novas alíquotas. Além disso, a instabilidade alimentada pela oposição continua a exercer pressão política, que tem dificultado a abertura formal das negociações entre Brasil e Estados Unidos.

O segundo semestre e o próximo ano se desenham como um dos períodos mais desafiadores para a articulação política do Executivo junto aos demais Poderes, com vistas a garantir melhora da avaliação de governo e a popularidade do presidente da República. No plano interno, a principal tarefa será conter a resistência organizada à agenda do governo que precisará mobilizar a sociedade; no plano externo, a prioridade recairá sobre a preservação da estabilidade comercial e da inserção soberana do país em um cenário internacional cada vez mais volátil — e tensionado pela oposição Bolsonarista — tendo como pano de fundo se fortalecer para as disputas eleitorais de 2026.

Fonte: Agência DIAP

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