A economia criativa, setor da produção que transforma ideias em bens e serviços de valor econômico, vem criando mais empregos do que a média do mercado de trabalho no Brasil e já representa 3,59% do Produto Interno Bruto (PIB), gerando quase R$ 400 bilhões anualmente. Os especialistas avaliam que para que a indústria criativa floresça, ela deve ser encarada como uma espécie de ecossistema, que engloba atividades tão diversas como desenvolvedores de tecnologia e artesãos, com remunerações às vezes muito díspares.
Para que esse ecossistema se sustente, afirmam os analistas, o setor precisa de políticas públicas, que promovam a capacitação profissional, o incentivo à inovação e a melhoria da infraestrutura para garantir o crescimento da indústria criativa. O Brasil é considerado um país de destaque no setor, mas falta planejamento para impulsioná-lo ainda mais.
— O Brasil tem um potencial enorme, com sua diversidade cultural, mas sofre para transformar esse capital em riqueza pela descontinuidade de políticas públicas — diz João Figueiredo, coordenador do programa de pós-graduação em Economia Criativa, Estratégia e Inovação da ESPM. Ele lembra que o Ministério da Cultura teve sua secretaria de Economia Criativa fechada em 2018, que só foi reaberta este ano.
De olho nessas oportunidades, a cidade de São Paulo sedia no próximo final de semana o maior evento de economia criativa da América Latina, o Pixel Show. Em sua 20ª edição, trata-se de uma chance para aqueles que querem conhecer as atividades da economia criativa, fazer networking e entender como entrar nesse setor, que gerou aproximadamente 1,26 milhão de empregos em 2023, um crescimento de 6,1% em relação a 2022 — quase o dobro do avanço de 3,6% registrado pelo mercado de trabalho nacional como um todo no mesmo período. Os dados constam do Mapeamento da Indústria Criativa 2025, estudo da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan).
—Vamos reunir representantes de diversas atividades da economia criativa, de designers, a grafiteiros, desenvolvedores de games e softwares, arquitetos e até profissionais de gastronomia. O Pixel Show é uma oportunidade para se conhecer as inovações neste setor — diz Allan Szacher, curador e sócio-fundador do Pixel Show.
Área gratuita a visitantes
O Pixel Show tem foco em artes, design, sustentabilidade e diversidade, além de ilustração, games, inovação e muita tecnologia. A expectativa é que o evento atraia pelo menos 50 mil pessoas nos dois dias. Haverá uma área gratuita aberta ao público com mais de 25 experiências entre games, instalações, exposições e performances, além de 20 workshops “mão na massa”, onde o visitante participa.
Segundo Símon Szacher, gestor, produtor cultural e diretor na Pixel Show, o evento, além de apresentar a economia criativa aos interessados, também tem potencial para gerar muitos negócios para quem já trabalha com essa atividade.
No último Pixel Show, por exemplo, em 2022, só em vendas de produtos criativos como camisetas, sacolas, joias, posters, quadrinhos, stickers, pins vendidos foi gerado quase R$ 1 milhão a cerca de 120 produtores, nos dois dias de evento. Já os projetos fechados depois do evento geraram cerca de R$ 2 milhões em contratos.
— Com montagem, fornecedores, standes, foram movimentados cerca de R$ 5 milhões, além de mais R$ 5,5 milhões em turismo, com visitantes que vieram de fora da capital para o evento— diz ele.
Nas palestras, os profissionais da área vão compartilhar sua experiência, além das novidades nas áreas em que atuam. Entre eles, estará Liam Proniewicz, diretor de arte no Territory Studio, uma agência criativa de motion graphics e design digital, que trabalhou em filmes como Blade Runner e Vingadores. Entre os profissonais brasileiros, Hanna Inaiáh mostrará o uso de inteligência artificial em design de moda. Uma nova edição do Pixel Show também acontecerá em Brasília, em novembro.
Coreia do Sul revolucionou o setor
Allan, curador do Pixel Show, lembra que o Brasil tem destaque mundial em alguns setores da economia criativa, como publicidade, com prêmios diversos no Festival de Cannes. Figueiredo, da ESPM, observa que com apoio governamental a Coréia do Sul se transformou numa potência em filmes e em música, atividades que fazem parte da indústria criativa. Na Coreia, lembra o especialista, foram quase 30 anos de políticas públicas estimulando o setor.
— A Coreia do Sul fez um grande projeto, a partir dos anos 90, de fortalecimento da indústria cultural. E a economia criativa precisa de um planejamento político, articulando os desafios culturais com os econômicos, numa atividade com grande capacidade de geração de riqueza — diz Figueiredo.
Cidades mais criativas
Segundo o Índice de Desenvolvimento Potencial da Economia Criativa (IDPEC) desenvolvido pela ESPM, os estados com maior potencial de economia criativa estão concentrados nas regiões Sul e Sudeste, além do Distrito Federal.
A cidade de Florianópolis (SC) lidera o ranking, seguida por Vitória (ES), Curitiba (PR), São Paulo (SP), Brasília (DF), Palmas (TO), Goiânia (GO), Belo Horizonte (MG), Porto Alegre (RS) e Cuiabá (MT). O Rio de Janeiro (RJ) ficou na 19ª posição. Esse índice reflete a maior presença de capital humano qualificado, atratividade e conectividade nessas regiões.
Para estimular a atividade, a ESPM criou o Prêmio cRio de Economia Criativa. A iniciativa é realizada pelo Programa de Pós-Graduação em Economia Criativa, Estratégia e Inovação da instituição em parceria com a Fundação Roberto Marinho e a escola digital co.liga. Vai premiar, em sua segunda edição, projetos inovadores e sustentáveis da região metropolitana do Rio de Janeiro.
Serviço
- Pixel Show: 11 e 12 de outubro
- Local: São Paulo, na ESPM
- Endereço: Rua Dr. Álvaro Alvim, 123 – Vila Mariana, São Paulo
- Mais informações e compra de ingressos: pixelshow.co
- Haverá área gratuita aberta ao público com mais de 25 experiência
Por João Sorima Neto
Fonte: O Globo
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