O mercado aguarda os dados de inflação do Brasil e dos Estados Unidos nesta semana, que devem nortear as decisões de política monetária nos dois países – ambos com pressões nos preços ao consumidor. Por aqui, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga os dados do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) nesta quinta-feira (9) e a expectativa é de aumento da pressão nos preços pelo setor de serviços.
O indicador de abril chegou a 1,06% ao mês, o que levou a inflação anual a 12,13%. A média das projeções dos analistas compiladas pelo Investing.com é de um IPCA em 0,6% em maio, com indicador anual projetado em 11,84%.
Rafaela Vitória, economista-chefe do Banco Inter (SA:BIDI4), observa como pontos de atenção para o indicador a redução na tarifa de energia por meio do fim da bandeira tarifária, assim como uma acomodação nos preços dos combustíveis, visto que eles já estão defasados. Além disso, no mês de maio, houve acomodação nos preços dos alimentos, segundo a especialista.
“Temos ainda preocupação com núcleos e como está se comportando a inflação de serviços, com economia mais aquecida. Os combustíveis e alimentos são os núcleos que vêm pressionando, itens que devem desacelerar na leitura de maio. Mas, nos últimos meses, aumenta a alta de alguns serviços e o receio de contaminação nos preços de outros”, pondera. O Inter estima elevação mensal de 0,63% no IPCA, levando o indicador anual a 11,9%.
Em maio, a prévia do IPCA, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), desacelerou a 0,59%, contra 1,73% no mês anterior, segundo dados divulgados pelo IBGE.
Julia Braga, professora de Economia da Universidade Federal Fluminense (UFF), destaca que o IPCA-15 veio abaixo do registrado em abril, mas ainda reflete uma inflação anual acima da expectativa.
“É um resultado de inflação muito alto ainda e só não foi maior porque terminou a bandeira tarifária vermelha de energia elétrica”, reforça. Braga afirma que a inflação ainda sofre com choque nos combustíveis e alimentos, e concorda que agora a pressão de custo acaba chegando também nos serviços. “Vimos que a atividade de serviços teve desempenho acima do esperado no primeiro trimestre por conta da reabertura econômica e dos serviços de transportes, muito ligados à extração e agropecuária. Essa pressão de custos tende a ser parcialmente repassada no preço final até no setor de serviços”, completa Braga.
Inflação disseminada e incerteza elevada
A expectativa dos economistas é que o ano feche com inflação ainda muito alta, mas com uma desaceleração a partir dos próximos meses. No entanto, a pressão de 2022 deve chegar a 2023 por meio dos reajustes de preços que são vinculados por mecanismos informais de indexação.
O ano deve ser de inflação elevada e incerteza em relação ao que deve acontecer nos próximos meses, tanto no câmbio quanto sobre a continuidade da Guerra na Ucrânia, pressionando preços.
Para o economista e especialista em alocação de investimentos da Warren, Carlos Macedo, a inflação corrente já está bem disseminada no país.
“A parte de bens duráveis é contaminada pela disrupção da cadeia produtiva, um aumento do petróleo impacta o frete de maneira generalizada, afeta o preço de passagem aéreas, que entra dentro de serviços. Na parte de bens não-duráveis, de alimentação, tivemos um aumento das exportações, queda da oferta, aumento do custo de fertilizantes e, naturalmente, isso impacta na alimentação fora do domicílio, que entra em serviços”. Além disso, Macedo cita como significativos os reajustes de energia elétrica e de planos de saúde – preços que foram represados durante a pandemia. A projeção da Warren é de uma elevação mensal de 0,60% no IPCA.
Copom no radar
Na próxima semana, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) realiza mais uma reunião de dois dias para definir qual a taxa básica de juros da economia brasileira (Selic), atualmente em 12,75% ao ano.
“Se vier mais uma surpresa bem significativa para cima do indicador, vai ser difícil o BC sinalizar que a próxima alta será a última. Aumenta a probabilidade de deixar a ‘porta aberta’”, completa Macedo.
Segundo o Boletim Focus, divulgado nesta segunda-feira (6), a previsão para a Selic no fim de 2022 segue em 13,25%, enquanto os analistas consultados pelo BC estimam um IPCA de 8,89% no mesmo período.
Para Braga, até o momento, a alta dos juros não conseguiu amenizar processo inflacionário devido ao choque por conta da guerra, que tem sido repassado ao consumidor, devido à política de preços da Petrobras (SA:PETR4).
“A defasagem da política monetária é em torno de seis meses a um ano, de forma que pode acontecer de ela atuar mais fortemente no segundo semestre. Mas alguns elementos geram muita incerteza em relação ao cenário político brasileiro; o governo anuncia medidas sem planejamento, o que não contribui para esse processo. Além da incerteza no cenário internacional sobre os combustíveis, especialmente o diesel, que está muito pressionado”, completa.
Fonte: Investing
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