A evolução dos instrumentos de mercado de capitais e financeiros tem estimulado as empresas a fazerem operações de crédito e de ações sustentáveis. Seja por meio de financiamentos que exigem metas e compromissos socioambientais e de governança (ESG) dos tomadores de empréstimos a emissões com selo carimbado, as transações estão avançando. Com exceção de 2022, prejudicado pelo período eleitoral, as emissões de crédito via mercado de capitais vêm crescendo anualmente desde 2015, fazendo com que bancos e Bolsa aprimorem mecanismos e regras.
Segundo levantamento da consultoria NINT, houve 287 operações sustentáveis de crédito de 2015 a 2022 por empresas brasileiras, movimentando R$ 199,28 bilhões. Os títulos verdes correspondem a 70% do número de operações e 57% do volume de emissões. Outros temas como social e sustentável representam 4% e 26% do total das transações.
—Os instrumentos financeiros rotulados têm metas de gênero e de redução de emissões. E os desafios das instituições financeiras e dos CFOs é motivarem ainda mais essas emissões — diz Tatiana Assali, diretora de programas ESG na NINT, do Grupo ERM.
Já na ponta do financiamento direto, em 2015, os bancos assinaram o primeiro acordo internacional no âmbito do Pacto Global que previa uma agenda para a adoção do escopo 3 (as emissões ao longo de todo o ciclo de vida dos produtos) e na linha de empréstimos com objetivos sustentáveis, que deve ganhar força este ano, conforme avaliam os agentes financeiros.
— Mas os bancos têm que ajudar tanto nas transações tradicionais quanto nas emissões. Uma é criando instrumentos diferenciados, como os sustainability linked bond —afirma Andrea Almeida, vice-presidente de Finanças e Estratégia do Santander.
O banco estruturou recentemente uma operação de certificado de recebível do agronegócio (CRA Verde) para chegar a 22 cooperativas cujos objetivos eram desenvolver suas biodiversidades a um custo de crédito que não conseguiriam se fossem a mercado sozinhas.
— Dentro do plano escopo 3 do banco, trabalhamos na descarbonização das empresas que financiamos e compramos uma consultoria que ajuda os clientes com o fomento de crédito de carbono e financiamento de novas tecnologias com combustíveis renováveis — observa Andrea.
Uma das prioridades do BNDES é ampliar o financiamento a setores ligados a reindustrialização energética e projetos de digitalização, inovação e reindustrialização verde, em parceria com bancos privados.
— A partir de agora vamos analisar todas as operações de projetos de clientes e o seus impactos no globo. Não dá para não capturar as externalidades. Vai ter rating verde e rating de crédito nas transações —conta Luciana Costa, diretora de infraestrutura, transição energética e mudanças climáticas do BNDES, que recebeu recentemente rating A1+, da agência classificadora de risco Moody’s, para os ativos ESG de sua carteira de crédito.
Do lado da B3, as novas regras e instrumentos vêm não só para estimular, mas para dar mais transparência às emissões e adoção das melhores práticas ESG.
—Em 2022, criamos o anexo ESG no regulamento do Novo Mercado, com o ‘pratique ou explique’ e preparamos a nossa plataforma para emissão e negociação de títulos temáticos. Com o ESG Workspace dá para comparar as emissões entre setores e empresas para ver o estágio em que elas estão — diz André Milanez, CFO da B3.
Ele explica que o terceiro pilar é a criação de índices, como o de sustentabilidade (ISE):
—Estamos ampliando as metas de diversidade no nosso KPI (indicador de impacto) e há dois anos a B3 fez uma emissão própria de título ESG.
Fonte: O Globo
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