Há pouco tempo, a assistente social Adriana Mansueto, 59, visitou uma amiga. Depois de se despedirem, recebeu uma ligação dela, perguntando onde estava. “Eu estou aqui debaixo”, respondeu. “Debaixo de onde?”, veio a dúvida. “Debaixo do prédio, onde ficam as escadas”, explicou Adriana. “Você está debaixo do prédio?”, perguntou a amiga, sem entender nada da conversa.
A assistente social se diverte com o que aprendeu ser a “névoa mental” de mulheres na menopausa. “Eu simplesmente me esqueci da palavra ‘garagem'”, lembra. “Já estou na pós-menopausa, mas continuo com alguns sintomas, como a névoa mental. Até me informar, achei que estava com Alzheimer.”
Adriana faz parte da população feminina com 50 anos ou mais, que deve representar este ano 15% do total de brasileiros, ou 33,6 milhões de pessoas, segundo projeção do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). É quase o dobro dos 8,5% em 2000.
É por volta dos 50 anos que a fase chamada de menopausa costuma começar: o período em que há falhas no ciclo menstrual é chamado de pré-menopausa (ou perimenopausa e climatério), a data em que a mulher completa 12 meses sem menstruar é a menopausa propriamente dita e o período a partir de então é a pós-menopausa.
Com o aumento da longevidade, as “menopausadas” de hoje têm um ritmo de vida diferente do que tinham na segunda metade do século passado. “Elas trabalham, estudam, podem ter filhos em idade escolar, têm uma vida ativa”, diz a ginecologista Maria Celeste Osório Wender, presidente da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia). “Nos anos 1970, elas eram avós.”
Para aliviar os sintomas da menopausa –ondas de calor, de frio, suor noturno, confusão mental, irritabilidade, insônia, perda da libido, entre vários outros– a indústria farmacêutica e de vitaminas e suplementos vem aumentando o número de lançamentos.
De acordo com a empresa americana de pesquisas Grand View Research, as vendas globais de suplementos e medicamentos sem prescrição para essas mulheres somaram US$ 17,8 bilhões (R$ 103,2 bilhões) no ano passado, um aumento de 28% sobre o faturamento de 2019.
No Brasil, as vendas totalizaram US$ 384,4 milhões (R$ 1,88 bilhão) em 2024, um crescimento de 12% sobre 2022, e devem chegar a US$ 527 milhões (R$ 3 bilhões) em 2030, segundo a Grand View Research.
Fabricante de suplementos e produtos funcionais, a Sanavita, de Piracicaba (SP), tem nas mulheres cerca de 90% do seu público, 40% delas acima dos 45 anos. Em 2024, a empresa lançou a linha Menoprevin, de suplementos em cápsulas.
“Ela contém ingredientes importantes para a saúde da mulher, como cálcio, magnésio, resveratrol, colágeno, vitaminas C, B6 e B9”, diz Andrea Frias, gerente de pesquisa e desenvolvimento da empresa.
O laboratório lançou ainda o Libifem, à base de feno grego, que contribui para melhorar o desejo sexual, afirma a especialista de 60 anos, formada em ciência dos alimentos, com doutorado em tecnologia dos alimentos e pós-doutorado em nutrição.
No começo da menopausa, Andrea sofria com os sintomas vasomotores, que são alterações na temperatura corporal. “Era uma onda de frio muito forte, e na sequência uma onda de calor, a ponto de molhar o lençol. Não conseguia dormir”, diz. “Mas este é o menor dos problemas da menopausa: é uma fase que a mulher precisa prestar mais atenção à saúde articular, cardiovascular e mental.”
Lançada em 2022 pela fabricante sueca de produtos de higiene e cuidados pessoais Essity, a marca Issviva, de suplementos em goma, é voltada exclusivamente a mulheres na menopausa. No Brasil, a venda está restrita à internet. O portfólio deve expandir em breve com o lançamento de um aparelho de estimulação pélvica, em parceria com a americana Joylux, especializada neste tipo de produto.
“O aparelho é sucesso no Reino Unido”, diz Rafael Proença, gerente de marketing da Issviva no Brasil. O produto promete ajudar no combate à incontinência urinária, além de diminuir o ressecamento e aumentar a elasticidade da região pélvica, diz.
A francesa Vichy, da gigante de cosméticos L’Oréal, lançou o Neovadiol, que promete reduzir os impactos da menopausa na pele.
“O Neovadiol usa uma combinação de ativos para compensar os impactos da queda de estrogênio na pele, como perda de densidade, ressecamento e flacidez”, diz Belisa Avena, diretora de Vichy no Brasil.
Segundo ela, a o nicho de mulheres na menopausa tem ganhado destaque no mercado de cuidados com a pele. “Há uma demanda crescente por soluções que atendam às necessidades reais dessa fase da vida.”
A Raia Drogasil, grupo com a maior rede de farmácias do país, lançou um autoteste de menopausa com a marca própria Needs.
“Ele detecta a presença do hormônio folículo estimulante, o FSH, na urina”, diz Juliana Cervan, diretora de serviços de saúde da Raia Drogasil Saúde. “Com a mudança na pirâmide etária, interessa lançar novas soluções para este público”. Na rede, 53% das clientes são mulheres.
‘HOMENS QUEREM SABER O QUE ACONTECE COM SUAS MULHERES E MÃES’
Gerente geral de bem-estar e saúde do grupo Gerdau, Adriana Mansueto está à frente do Programa Ciclos, criado em outubro do ano passado para acolher mulheres na menopausa, incluindo períodos pré e pós.
O programa envolve a sensibilização das lideranças, encontros de funcionárias com psicólogos, médicos e nutricionistas, rodas de conversa para troca de experiências e até consulta virtual via aplicativo do plano de saúde.
Participam cerca de 800 mulheres, de um total de aproximadamente 3.800 que trabalham no grupo siderúrgico no Brasil. Mesmo em um setor predominantemente masculino (os homens somam 75% da equipe no país), a Gerdau conseguiu atrair a atenção de parte dos funcionários.
“Eles queriam saber o que acontece com suas mulheres e mães”, diz Adriana. Para ela, é importante que a sociedade como um todo aprenda mais sobre este período da vida da mulher. “Ela está ativa socialmente, mas vivencia mudanças físicas que impactam seu bem-estar, sua saúde, o que vai reverberar no seu trabalho.”
Juliana Maia, analista de laboratório da Gerdau, percebeu isso. Por volta dos 38 anos, começou a ter sintomas. “Me vi tendo crises de ansiedade, o que me paralisava no trabalho, além de ondas de calor, névoa mental, irritabilidade e diminuição da libido”, diz. Hoje com 41, consegue lidar melhor com a menopausa precoce. “Passei por terapia e medicação, tomo suplementos. Mas o melhor foi me sentir acolhida no ambiente trabalho. Saber que sou compreendida.”
Segundo a ginecologista Maria Celeste Wender, cerca de 20% das mulheres não apresentam os sintomas da menopausa. Quem apresenta pode recorrer à terapia de reposição hormonal (por meio de comprimidos, adesivos e gel) que, segundo a especialista, já não carrega o estigma do passado –quando foi associada ao risco de câncer. “Em doses menores, produz bons efeitos”, diz.
Já em relação às vitaminas e suplementos, a especialista diz que as mulheres nesta faixa etária tendem a precisar de cálcio, vitamina D e B12. “Mas não existem estudos com rigor metodológico sobre a eficácia da maioria dos suplementos.”
Fonte: Folha de S.Paulo
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