Enquanto a indústria do tabaco fatura, o Brasil paga e caro. Segundo o mais recente estudo do Instituto Nacional de Câncer (Inca), divulgado pelo Ministério da Saúde às vésperas do Dia Mundial Sem Tabaco (31 de maio), para cada R\$ 1 de lucro obtido pela indústria com a venda de cigarros, o país desembolsa R$ 5 em despesas com o tratamento de doenças causadas pelo fumo.
A conta inclui custos diretos, como internações e medicamentos e indiretos, como afastamentos do trabalho, perda de produtividade e aposentadorias precoces. No total, o prejuízo anual causado pelo tabagismo à economia brasileira chega a R\$ 153,5 bilhões, o equivalente a 1,55% do Produto Interno Bruto (PIB). Em contrapartida, a arrecadação de tributos federais do setor foi de R\$ 8 bilhões em 2022, uma diferença que escancara o impacto econômico do cigarro na saúde pública.
Cigarro: prejuízo que afeta a todos
O estudo “A Conta que a Indústria do Tabaco Não Conta” foi apresentado durante evento promovido pelo Ministério da Saúde na sede da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), em Brasília. O levantamento reforça o alerta de que o tabagismo não é apenas uma questão de saúde individual, mas um problema coletivo, com efeitos diretos sobre os sistemas público e previdenciário, além das relações de trabalho.
Doenças como câncer de pulmão, doenças cardíacas, AVC, diabetes tipo 2 e a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) estão entre as principais causadas pelo uso contínuo do tabaco — responsável por cerca de 174 mil mortes evitáveis por ano no Brasil. Diariamente, são 477 óbitos atribuídos ao hábito de fumar.
Além disso, o fumo passivo a exposição involuntária à fumaça responde sozinho por aproximadamente 20 mil mortes anuais, afetando inclusive não fumantes.
Cigarro eletrônico: nova cara do velho problema
A campanha nacional de 2025, lançada com o slogan “Sem Cigarro, Mais Vida”, foca especialmente na prevenção entre os jovens, que hoje representam a faixa etária com maior uso dos dispositivos eletrônicos para fumar (DEFs), popularmente conhecidos como vapes. Segundo a pesquisa Vigitel 2023, 6,1% dos brasileiros de 18 a 24 anos disseram ter feito uso desses produtos, proibidos no país desde 2009.
Mesmo banidos, os cigarros eletrônicos continuam a circular e seduzir novos usuários por meio de sabores artificiais, embalagens coloridas e forte presença nas redes sociais. Por isso, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) reforçou em 2024 a proibição da comercialização, importação e propaganda desses dispositivos, por meio da Resolução RDC nº 855.
Mais procura por tratamento no SUS
Apesar dos desafios, os números também apontam avanços. O Sistema Único de Saúde (SUS) vem ampliando o atendimento à população que deseja deixar o cigarro. Entre 2022 e 2024, os tratamentos com abordagem cognitivo-comportamental quase dobraram, passando de 42,3 mil para 83 mil atendimentos. As visitas domiciliares somaram 2,25 milhões em 2024, e as atividades coletivas de apoio chegaram a 266 mil participantes.
O SUS oferece tratamento gratuito para quem quer parar de fumar, incluindo acompanhamento médico, sessões em grupo, terapia de reposição de nicotina e medicamentos como a bupropiona. O primeiro passo é procurar a Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima.
Reconhecimento internacional e ação coordenada
Os avanços do Brasil no enfrentamento ao tabagismo foram reconhecidos na 78ª Assembleia Mundial da Saúde, realizada neste mês, em Genebra. A Organização Mundial da Saúde (OMS) destacou a atuação conjunta dos Ministérios da Saúde e da Fazenda, principalmente pela inclusão dos chamados “impostos saudáveis” na Reforma Tributária, como os aplicados ao tabaco.
A OMS também alertou para os perigos dos sabores artificiais usados em produtos de tabaco, especialmente entre os jovens. A entidade recomenda que os países proíbam esses aditivos, que disfarçam o gosto forte do cigarro e tornam o produto mais atraente a novos usuários.
Cenário nas Américas e alerta global
Nas Américas, o consumo de tabaco entre adolescentes de 13 a 15 anos ainda preocupa: 11,9% dos meninos e 10,7% das meninas disseram já ter experimentado algum produto à base de nicotina. A prevalência do uso de cigarros eletrônicos nessa faixa etária também se aproxima dos índices de cigarro convencional, segundo dados da OMS.
A meta global é clara: reduzir a demanda e salvar vidas. O Dia Mundial Sem Tabaco, criado em 1987, é mais do que uma data simbólica. É um convite à reflexão sobre os impactos do cigarro na saúde, na economia e no ambiente de trabalho.
Com informações do GOV e OMS
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