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Incerteza para investir, empresas retiram ao menos R$ 10 bi da Bolsa em recompra de ações

postado Assessoria

Estratégia costuma ser usada para elevar preço dos papéis, que estão muito desvalorizados, é e vista como sintoma do “compasso de espera” no atual contexto econômico

Com a acelerada alta de juros promovida pelo Banco Central contra a inflação e as incertezas que rondam a economia brasileira no ano eleitoral em meio a um quadro econômico global conturbado, o mercado de ações tem sofrido. A desvalorização dos papéis provocada pela aversão dos investidores ao risco aumenta o número de empresas que vão à Bolsa de São Paulo, a B3, comprar suas próprias ações.

Um levantamento feito pelo gestor de renda variável da Kínitro Capital, Marcelo Ornelas, estima que ao menos R$ 10 bilhões em ações foram tirados do mercado brasileiro nos últimos 15 meses pelas próprias emissoras dos papéis.

O fenômeno vai na contramão das ofertas públicas iniciais (IPOs), quando as companhias emitem ações para levantar recursos para investir em projetos, que bateram recorde em 2020 com juros baixos e otimismo na Bolsa.

Com a reversão do quadro, não apenas sumiram as novas ações. As empresas resolveram enxugar o volume de papéis em circulação. Analistas explicam que essa é uma forma de tentar ajudar a elevar as cotações, mas também um sintoma do “compasso de espera” que prevalece entre as companhias no atual contexto econômico.

A maioria passou por fortes ajustes na pandemia para reequilibrar as contas, mas não tem confiança para fazer agora aportes em novos projetos, como a construção de uma nova fábrica, a compra de novos equipamentos, a contratação de trabalhadores ou a aquisição de outras empresas. Com o caixa cheio, estão preferindo usar parte dos recursos para comprar as próprias ações.

33 registros só neste ano

Um relatório do banco BTG Pactual mostra que, em 2021, foram anunciados e executados 59 programas de recompra de ações por empresas listadas na B3, bem mais que em 2020 e 2019: 38 e 20, respectivamente. Só na primeira metade deste ano, foram 33.

Isso sem contar os programas registrados na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), mas não concretizados. Entre as grandes empresas com programas abertos estão Vale, Azul, Ambev e Vibra. O crescimento coincide com a trajetória de alta da taxa básica de juros (Selic), que saiu de 2% ao ano no início de 2021 e alcançou 13,75% no mês passado.

— Quando você tem juros nos patamares que se tem hoje e ações muito baratas, as empresas fazem recompra e investem menos, já que o retorno de outros projetos fica mais difícil — analisa Carlos Eduardo Sequeira, chefe da área de Análise e Pesquisa do BTG Pactual para América Latina.

Ele ressalta que a recompra é só mais um sinal da conjuntura desfavorável ao crescimento das companhias:

— Nenhuma empresa para de investir ou de comprar outras empresas, por exemplo, só para fazer recompra de ações, porque a quantidade de dinheiro necessária para fazer grandes projetos de expansão é muito maior.

Camila Goldberg, sócia das áreas de Mercados Financeiro e de Capitais do BMA Advogados, diz que investimentos em projetos, fusões e aquisições não têm sido prioridade nas empresas por causa das incertezas econômicas e políticas:

Gabriel Meira, sócio da Valor Investimentos, concorda que, como o mercado de fusões e aquisições anda cauteloso e projetos estão mais arriscados, tornou-se interessante para uma empresa usar uma parte do caixa acumulado para recomprar ações, o que só ocorre quando avaliam que a cotação está abaixo do real valor da companhia:

— Estamos num momento em que as companhias estão em compasso de espera, por causa da eleição em dois meses. Negócios desse tipo só serão fechados se houver oportunidade muito específica.

— Via de regra, quando há várias empresas fazendo recompra de ações, o alarme de que momento está bom para compra é acionado. Vale a pena ficar de olho porque significa que as ações estão baratas.

Fonte: O Globo

www.contec.org.br

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