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Nova nota informativa da OIT destaca disparidade global de gênero de cinco meses nas licenças parentais remuneradas

O estudo, que comemora o 25º aniversário da Convenção sobre Proteção à Maternidade, destaca que alcançar uma licença parental mais equitativa, inclusiva e sustentável exigiria um investimento adicional médio anual de 0,13% do PIB.

postado Luany Araújo

Um novo relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) revela uma lacuna média global de mais de cinco meses entre os direitos de licença parental remunerada de mulheres e homens, e apela à necessidade urgente de eliminar essa disparidade de gênero.

A publicação “Closing the Gender Gap in Paid Parental Leave” (Reduzindo a Disparidade de Gênero na Licença Parental Remunerada) inaugura a nova série de relatórios da OIT sobre a economia do cuidados. Lançado para marcar o 25º aniversário da Convenção sobre a Proteção da Maternidade, de 2000 (N.º 183), o estudo constata que as mães têm direito, em média, a 24,7 semanas de licença parental remunerada, em comparação com apenas 2,2 semanas .

“Essa disparidade reforça as desigualdades de gênero em casa e no mercado de trabalho”, afirmou Sukti Dasgupta, diretora do Departamento de Condições de Trabalho e Igualdade da OIT. “Licença igualitária, intransferível, financiada publicamente e apoiada por sistemas de proteção social é essencial para alcançar mudanças reais.”

Uma disparidade global de gênero com consequências reais

O fato de muitas mulheres terem direito a licença parental remunerada, incluindo licença-maternidade, representa um desenvolvimento positivo e reflete um alinhamento crescente com a Convenção Nº 183 da OIT, um pré-requisito para a igualdade de gênero. No entanto, para alcançar a verdadeira equidade nas responsabilidades de cuidados e no mercado de trabalho, os homens também devem ter licença parental remunerada adequada e intransferível. Caso contrário, os papéis tradicionais de gênero tendem a se perpetuar, e as responsabilidades de cuidado continuam a recair desproporcionalmente sobre as mulheres.

O relatório mostra que 57% da população mundial vive em países nos quais as mulheres recebem entre três e seis meses a mais de licença parental remunerada do que os homens. Em 28 países, a diferença é superior a um ano. E em 71 países, os pais não têm direito legal a licença parental remunerada.

O estudo ressalta que a formulação de políticas é tão importante quanto a sua duração. Quando a licença-paternidade é mal remunerada, não é protegida por lei ou financiada pelos empregadores, os pais raramente a utilizam, perpetuando a sobrecarga de cuidados sobre as mulheres. De acordo com um estudo da OIT, em 2023, 708 milhões de mulheres em idade produtiva estavam fora da força de trabalho devido a responsabilidades de cuidados não remuneradas, em comparação com apenas 40 milhões de homens.

“Eliminar a disparidade de gênero na licença parental remunerada exige a implementação do princípio fundamental da igualdade de oportunidades e tratamento para trabalhadores com responsabilidades familiares”, acrescentou Dasgupta. “Isso inclui a ratificação e implementação da Convenção nº 183 da OIT, o reconhecimento do papel dos pais na prestação de cuidados e a garantia da cobertura universal da licença parental.”

Segundo estimativas da OIT baseadas no Simulador de Investimento em Políticas de Cuidados, garantir pelo menos 14 semanas de licença remunerada a uma taxa de 67% do salário anterior para mulheres e homens exigiria um investimento global anual adicional de US$ 142 bilhões até 2035. Isso representa, em média, um aumento de 0,13% do PIB em comparação com o investimento público atual, que varia de 0,08% do PIB na Europa e Ásia Central a 0,49% nos Estados Árabes. Esse investimento poderia gerar mais de quatro milhões de empregos formais em todo o mundo.

Roteiros para a Reforma

Embora 121 países reconheçam o direito à licença-paternidade, apenas 105 oferecem licença-paternidade remunerada, e apenas 37 introduziram ou expandiram esse direito nos últimos dez anos.

Exemplos internacionais servem de inspiração. O sistema neutro em termos de gênero da Espanha efetivamente fechou essa lacuna. Países nórdicos, como a Suécia, alcançaram um aumento no uso da licença parental por meio de cotas do tipo “use ou perca”. Países como Seicheles, Costa Rica, Dinamarca, Mongólia e Omã adotaram modelos de financiamento misto que incluem trabalhadores informais e estrangeiros. Em Singapura, as reformas introduzidas em 2024 expandiram a licença parental compartilhada — cada pai/mãe receberá três semanas, aumentando para cinco em 2026 — ajudando empregadores e famílias a planejar e distribuir melhor as tarefas de cuidado.

O relatório propõe quatro ações políticas principais:

  • Ratificar e alinhar a proteção da maternidade com as normas da OIT – embora 54 países cumpram os requisitos da Convenção No. 183, muitos ainda devem ratificá-lo e implementá-lo, incluindo a transferência de financiamento de empregadores para os mecanismos públicos.
  • Reconhecer e apoiar o papel dos pais no cuidado – A licença-paternidade deve incluir proteção do funcionário, duração adequada, boa remuneração, financiamento público e caráter não transferível para fomentar seu uso e redistribuir as tarefas de cuidado não remuneradas.
  • Proporcionar licenças parentais remuneradas para cada progenitor– Os direitos devem ser individuais (e não familiares), com benefícios adequados e opções flexíveis, como a licença de neio período, para promover sua utilização por parte dos pais.
  • Garantir um financiamento e cobertura inclusivos – O financiamento baseado na proteção social e o diálogo social são essenciais para incluir trabalhadores em empregos informais, atípicos e as micro, pequenas e médias empresas.

 

Fonte: OIT

www.contec.org.br

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