O Banco do Brasil, segundo maior banco do país em ativos totais, iniciou em junho uma campanha para evitar pedidos de recuperação judicial, disse um executivo sênior nesta quarta-feira (25), sob a leitura de que o processo, que ganhou impulso recente, é danoso para o setor.
Na semana passada, a varejista de insumos agrícolas e serviços AgroGalaxy protocolou um pedido de recuperação judicial, dando sequência a uma onda de pedidos que tem sido vista no país num cenário de preços de commodities em queda e ocorrência de eventos climáticos extremos, como inundações e secas sem precedentes.
“O processo de recuperação judicial pra produtores rurais não é saudável”, disse o vice-presidente de controles internos e gestão de riscos do BB, Felipe Prince.
“Ele coloca em risco o patrimônio dos produtores, que são as terras, e ele fecha para eles a possibilidade de novas concessões de crédito. E o agronegócio é cíclico, você precisa de recursos para iniciar uma safra.”
Líder em crédito para o agronegócio no Brasil, com um “market share” de 50% entre produtores rurais, o Banco do Brasil tem engajado superintendentes nas principais praças produtoras em um “processo de conscientização” para “mostrar os malefícios e como isso pode, inclusive, criar uma ruptura na atividade econômica do produtor rural”.
“Alguns produtores têm tomado algumas medidas, no meu modo de entender, irracionais e recorrido a esse processo”, afirmou o executivo, atribuindo parte das decisões à “advocacia predatória e processo de blindagem de patrimônio.”
Apesar de ter reconhecido a alta recente nos pedidos de recuperação judicial, Prince pontuou que o volume ainda é muito pequeno: dentre os mais de 700 mil produtores que compõem a carteira do banco, 150 estão em recuperação judicial.
De acordo com a Serasa, 321 empresas de produtos e serviços que se relacionam diretamente com o agronegócio pediram recuperação judicial no ano passado, alta de 82% sobre um ano antes. No primeiro trimestre deste ano foram mais 82 pedidos, mostraram dados divulgados pela empresa neste mês.
Em relação ao impacto dos eventos climáticos extremos, Prince pontuou que o banco de dados robusto do BB, com informações de safras agrícolas desde 1960, tem sido utilizado como insumo para predição de cenários futuros, aumentando a percepção sobre os riscos e impelindo a criação de alternativas para tentar mitigá-los.
Essa mesma base tem sido utilizada, em associação com inteligência artificialf e técnicas de georreferenciamento, para enxergar se produtores estão eventualmente invadindo áreas de produção.
“Em isso acontecendo e a gente pegando aqui no nosso monitoramento, a gente inclusive vence a dívida imediatamente, desclassifica do crédito rural, e por aí vai”, disse Prince.
A carteira de crédito sustentável do banco tem R$ 360 bilhões, sendo R$ 155 bilhões em agricultura sustentável. A meta é levar esses números a R$ 500 bilhões e R$ 200 bilhões, respectivamente, até 2030.
Foco ESG
Falando à Reuters por telefone de Nova York, onde o banco organizou nesta semana um evento para investidores em meio à Climate Week, Prince disse que a percepção generalizada é de que o Brasil está bem posicionado para se colocar como protagonista em sustentabilidade, sendo que o BB busca se firmar como player decisivo no mercado de crédito de carbono.
Na terça-feira, o banco anunciou que havia captado US$ 800 milhões junto ao JPMorgan Chase Bank, Standard Chartered Bank, HSBC Bank e Crédit Agricole para financiar pequenos e médios produtores que usam métodos de agricultura de baixo carbono.
Após a emissão de US$ 750 milhões em títulos sustentáveis no mercado internacional em março deste ano, a terceira associada a compromissos ambientais, sociais e de governança (ESG) do banco, Prince também afirmou que o BB segue atento às oportunidades, embora tenha afastado a possibilidade de nova operação este ano.
“Havendo oportunidade (mais tarde), a gente capta. Então isso é perene”, ele disse.
Fonte: CNN
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