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Dólar abre em disparada após vitória de Trump nas eleições dos Estados Unidos

Investidores precificam promessas do republicano na economia, que, pelo potencial inflacionário, podem exigir juros altos por mais tempo

postado Luany Araújo

dólar abriu em disparada nesta quarta-feira (6), em reação dos investidores à vitória de Donald Trump contra Kamala Harris nas eleições presidenciais dos Estados Unidos.

O republicano foi declarado eleito por volta das 7h30 desta manhã, quando alcançou a marca de 276 dos 538 votos do Colégio Eleitoral. Com a apuração ainda em curso, liderava em todos os sete estados-pêndulo.

Às 9h06, a moeda norte-americana disparava 1,68%, cotada a R$ 5,840. Na terça-feira, fechou em queda de 0,63%, a R$ 5,746, e a Bolsa subiu 0,11%, aos 130.660 pontos.

Em uma disputa acirrada pela Casa Branca, o retorno de Trump consagra também a guinada de seu partido no contexto político dos Estados Unidos. Essa é a primeira vez desde George W. Bush, em 2004, que um candidato republicano não chegava à presidência como o mais votado pela população.

A demonstração de força dos republicanos também foi vista no Senado, cujo controle o partido retomou ao obter 51 dos 100 assentos. Havia a expectativa de que também mantivessem o comando da Câmara, em um quadro que se desenha bastante desfavorável para os democratas.

A vitória contra Kamala marca uma reviravolta em sua história, após seu futuro político ter sido colocado em xeque quando apoiadores invadiram o Capitólio, incitados por ele, para impedir a confirmação da vitória de Joe Biden. No caminho até sua recondução à Casa Branca, também se tornou o primeiro ex-presidente condenado em ação criminal na história dos EUA.

No mercado, os investidores precificam o impacto das propostas de Trump na economia.

O republicano promete aumento tarifário sobre as importações, especialmente as chinesas, e um possível corte de impostos —medidas que são vistas como inflacionárias e que podem influenciar o Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano) a manter os juros elevados por mais tempo, o que dá força ao dólar.

Na terça-feira, a expectativa pelas eleições americanas e pelo anúncio de medidas de contenção de gastos do governo marcaram a sessão.

Por aqui, o mercado aguarda a divulgação do pacote que visa dar mais sustentabilidade ao arcabouço fiscal. O anúncio poderá ocorrer ainda nesta semana, segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que afirmou que as medidas estão “muito avançadas” do ponto de vista técnico.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se encontrou com a equipe econômica e com ministros que poderão ser atingidos pelas medidas na segunda-feira, e, na terça, a Casa Civil se reuniu com outras autoridades do governo para dar continuidades às tratativas.

A reunião de ontem, inicialmente prevista para às 16h, foi antecipada para 14h —o que deu força aos ativos brasileiros.

“Está com cara de que vai sair algo muito em breve. Em dia de dólar mais fraco lá fora por conta da expectativa para a eleição americana, esse tipo de movimento acaba tendo mais impacto”, diz Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.

Estiveram presentes na reunião de terça-feira os ministros Carlos Lupi (Previdência Social) e Wellington Dias (Desenvolvimento Social), além da equipe econômica do governo —formada por Haddad, Simone Tebet (Planejamento e Orçamento) e Esther Dweck (Gestão e Inovação)— e do próprio titular da Casa Civil, Rui Costa.

Já na segunda, Lula se reuniu com Luiz Marinho (Trabalho e Emprego), Nísia Trindade (Saúde) e Camilo Santana (Educação), além da equipe econômica, em encontro que durou cerca de três horas, mas terminou sem anúncios.

O movimento do governo ocorre após dias de estresse no mercado financeiro. O dólar disparou na última sexta-feira para R$ 5,86, a maior cotação desde maio de 2020, em reação agravada pela notícia da viagem —posteriormente cancelada— de Haddad à Europa.

O ministro passaria a semana em eventos em Paris, Londres, Berlim e Bruxelas, e, segundo um interlocutor ouvido pela Folha, a ausência do chefe da ala econômica tornaria “praticamente impossível” que o plano fosse definido nos próximos dias —a contragosto do mercado, que espera celeridade na resolução das incertezas fiscais.

Para os investidores, o governo precisa ajustar a ponta das despesas, e não só reforçar a arrecadação, para garantir a longevidade do arcabouço fiscal.

A previsão de encaminhar ao Congresso Nacional ainda em 2024 um pacote de revisão de gastos estruturais foi anunciada por Tebet em 15 de outubro. Na ocasião, afirmou que as medidas seriam enviadas após as eleições municipais, que terminaram no domingo passado (27).

A semana ainda guarda as decisões de juros do Fed e do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central).

Por causa das eleições presidenciais, a reunião da autoridade norte-americana foi adiada em um dia e irá ocorrer entre quarta e quinta-feira, enquanto a decisão do comitê brasileiro será anunciada nesta quarta-feira, como de praxe.

A expectativa dos agentes financeiros é que o Fed dê continuidade ao ciclo de afrouxamento nos juros. Na reunião de setembro, o colegiado reduziu a taxa em 0,5 ponto percentual, levando-a à banda de 4,75% e 5% —o primeiro corte em quatro anos.

Na ferramenta CME Fed Watch, a probabilidade de uma redução de 0,25 ponto marca 97%. A previsão de diminuição do ritmo de cortes vem na esteira de uma bateria de dados que indicaram que a economia dos Estados Unidos segue forte, com inflação convergindo à meta de 2% e mercado de trabalho resiliente.

O movimento é o oposto do BC brasileiro. Aqui, o Copom decidiu reiniciar o ciclo de apertos na taxa Selic na reunião passada, quando optou por uma alta de 0,25 ponto percentual e levou os juros a 10,75% ao ano.

 

Fonte: Folha de S.Paulo

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