“O teu perfil é muito bom, mas a gente está procurando alguém que tenha um perfil mais padronizado para representar a empresa”. Isso foi o que Alana Freitas ouviu após a última entrevista de emprego para trabalhar num escritório como assistente jurídica.
Formada em direito há quase dois anos, ela, que é uma jovem negra, já participou de três seleções para atuar em escritórios de advocacia. A última entrevista foi na quinta-feira (29).
“Viram meu currículo e começaram a questionar se era verdade; e eu fingi que não entendi o porquê, mas eu sabia”, disse. A falta de oportunidade que Alana enfrenta é a mesma de grande parte dos jovens negros.
De acordo com dados o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 64% dos desempregados do Brasil são negros. Além disso, a população negra também ocupa a maior parte dos cargos subutilizados, em 66%.
No entanto, para muitos, as dificuldades não param após a conquista do emprego. Segundo o Ministério Público do Trabalho de Pernambuco, o número de denúncia no ambiente de trabalho é alto. Nos seis primeiros meses de 2023, foram 313 denúncias, contra 409 no ano de 2022 inteiro.
O advogado Augusto Chagas, assim como outros jovens negros do país, passou por dificuldades para ingressar no mercado de trabalho, mesmo com diploma. Ele se formou em direito em 2021 e, assim que saiu da universidade, levou um tempo para conseguir um trabalho.
Atualmente, ele trabalha num escritório de advocacia no Bairro do Recife, no Centro da cidade. Ao longo da carreira ele conta que ouviu diversos comentários racistas, principalmente sobre o cabelo e a postura.
Para a procuradora do trabalho em Pernambuco Melícia Carvalho Mesel não só é necessário ouvir as denúncias, mas também acompanhar a jornada dos profissionais, garantindo os direitos iguais.
“Como elas ainda estão fora do mercado de trabalho? Isso não é justificável por nenhuma razão. A gente precisa avançar e as empresas precisam fazer sua parte”, disse.
Em relação à remuneração, a diferença salarial entre negros e brancos chega a 73%, segundo o MPT. O valor médio dos salários de profissionais negros é de cerca de R$ 2,2 mil.
“Uma vez dentro da empresa, é também preciso assegurar os mesmos direitos, como igualdade salarial e a oportunidade de ascensão”, disse a procuradora.
Fonte: G1
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