Empregados da Caixa Econômica Federal têm questionado a decisão da presidência de manter em cargos de chefia pessoas que trabalharam com Pedro Guimarães e Daniella Marques, que comandaram o banco durante o governo de Jair Bolsonaro (PL).
Em grupos de mensagens, funcionários da instituição financeira resgatam vídeos e fotos de executivos com membros da gestão Bolsonaro e reclamam que, enquanto algumas pessoas foram perseguidas por terem sido tachadas de petistas, nomes de Guimarães e Marques continuam no atual governo.
Nos últimos dias, um dos alvos foi o vice-presidente de Agente Operador, Edilson Carrogi Ribeiro Vianna. Ele aparece em um vídeo tirando uma selfie com Bolsonaro enquanto um grupo de funcionários da Caixa cercava o ex-presidente com gritos de “mito”. Na gravação, também é possível ver que Guimarães assistia à cena.
Vianna tomou posse como diretor-executivo da empresa no início da gestão Bolsonaro, em 2019, e é vice-presidente de Agente Operador desde abril do ano passado —primeiro como interino e, desde junho, como efetivo. A área é uma das mais cobiçadas do banco porque controla o FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço).
Pessoas próximas à presidente da Caixa, Maria Rita Serrano, afirmam que o resgate de imagens antigas é reflexo da disputa interna por cargos. À Folha, Serrano afirmou que não vai repetir a “prática de perseguição” do “presidente anterior”, e disse que “todos os executivos estão sob avaliação”.
“Com as nomeações de segunda-feira [passada, dia 17] já alteramos nove áreas da Caixa, além das subsidiárias. Não sou como o presidente anterior da Caixa e não vou usar da mesma prática de perseguição, que eu mesma condenei como conselheira”, afirmou.
“Todos os executivos estão sob avaliação, estamos fazendo mudanças de forma a não prejudicar a continuidade das operações, que acredito ser o que a população espera da Caixa”, completou a presidente da Caixa à reportagem.
Outro nome contestado é o de Julio Cesar Volpp, vice-presidente da Rede de Varejo, área responsável por todas as agências bancárias, incluindo as 54 superintendências regionais. Nomeado em julho de 2022, Volpp estava à frente do cargo quando a Caixa passou a oferecer empréstimo consignado a beneficiários do Bolsa Família —medida vista para alavancar Bolsonaro durante as eleições.
À Folha, Serrano saiu em defesa de Volpp e contestou as críticas pela participação dele na gestão anterior. Ela disse que o atual VP da Rede de Varejo foi perseguido na gestão Guimarães, perdeu a função de presidente da Caixa Cartões e ficou como técnico bancário até ser nomeado por Daniella Marques.
Críticas semelhantes recaem sobre a vice-presidente de Negócios de Varejo, Thays Cintra Vieira, indicada por Guimarães ao cargo em 2021. Uma foto dela com a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) e três ex-ministros de Bolsonaro em um evento da Caixa em outubro voltou a circular em grupos do banco nesta semana.
A pressão também recai sobre diretorias do banco e de empresas subsidiárias. É o caso de Manoel Henrique Amorim, diretor financeiro da Caixa Capitalização. Amorim chegou ao banco de investimentos da Caixa em 2019 e migrou para a Caixa Capitalização em junho de 2021.
Outro amigo de Guimarães alvo dos empregados do banco público é Rafael Pesce, indicado da Caixa na diretoria da Cartão Elo. O executivo é amigo de Pedro Guimarães desde quando o ex-presidente da instituição financeira era sócio do Banco Plural, onde Pesce também trabalhou.
O vice-presidente executivo da Elo chegou à Caixa em maio de 2019, já sob a gestão de Guimarães, e não tem carreira na instituição.
Em nota, a Caixa afirmou que “todos os executivos estão sob constante avaliação e que as mudanças estão sendo feitas de maneira criteriosa, respeitando os devidos ritos de governança”. O banco disse ainda que a atual administração “repudia qualquer forma de perseguição ou disseminação de ódio e tampouco admite qualquer tipo de assédio”.
A reportagem não conseguiu contato com Amorim. Vianna, Volpp e Vieira foram procurados por meio de suas respectivas vice-presidências, mas não houve resposta até a publicação dessa reportagem. Já Pesce não quis comentar.
Fonte: Folha de S. Paulo
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