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Mães solo têm renda 39% menor que a dos pais casados

postado Assessoria

Mães solo enfrentam mais dificuldades de inserção no mercado de trabalho e, quando conseguem uma ocupação, têm uma renda média inferior a de grupos como mulheres e homens casados e com filhos.

É o que sinaliza um estudo assinado pela economista Janaína Feijó, pesquisadora do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).

De acordo com o levantamento, o rendimento do trabalho das mães solo no Brasil foi estimado em R$ 2.105 por mês no quarto trimestre de 2022. O valor ficou quase 39% abaixo da renda dos homens casados e com filhos (R$ 3.438).

Antes da pandemia, no quarto trimestre de 2019, essa diferença era menor. Elas recebiam 33,4% a menos do que eles –R$ 2.325 e R$ 3.493, respectivamente. Os dados foram publicados em termos reais, ou seja, com o ajuste pela inflação.

“Ao contrário das mães solo, a trajetória dos homens no mercado de trabalho não é afetada após o nascimento dos filhos”, diz Feijó.

No quarto trimestre de 2022, a renda das mães solo (R$ 2.105) foi cerca de 20% menor do que o rendimento das mulheres casadas e com filhos (R$ 2.626).

“As mulheres casadas também enfrentam dificuldades no mercado de trabalho. A diferença é que elas podem contar com uma pessoa a mais com renda”, afirma Feijó.

O estudo da economista foi elaborado a partir microdados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

A análise é focada nas mães solo de 15 a 60 anos que são consideradas pessoas de referência nos seus lares. As comparações são feitas com pais e mães da mesma faixa etária que estão em relações conjugais.

ENSINO E IDADE DA MÃE IMPACTAM

O estudo aponta diferenças dentro do próprio grupo das mães solo. No quarto trimestre de 2022, a renda média do trabalho das mães solo negras foi estimada em R$ 1.685 no Brasil. O valor ficou 39,2% abaixo do rendimento das mães solo autodeclaradas brancas ou amarelas (R$ 2.772).

Feijó afirma que um dos motivos para essa disparidade é o nível de escolaridade. No quarto trimestre de 2022, em torno de 21% do total de mães solo brancas ou amarelas tinham ensino superior. Entre as mães solo pretas ou pardas, o percentual caía a 9%.

De acordo com Feijó, há uma forte correlação entre o momento da maternidade e o grau de escolaridade das mulheres. Nesse sentido, quando a gestação acontece durante a fase escolar (entre os 14 e 25 anos), pode dificultar e até mesmo inviabilizar a continuidade dos estudos, com possíveis reflexos sobre o futuro profissional das mães, aponta a pesquisa.

Segundo o levantamento, entre as mães solo que tiveram o primeiro filho com 15 anos ou menos, apenas 3% contavam com ensino superior completo. Já entre as que tiveram o primeiro filho aos 30 anos, 22% apresentavam ensino superior completo.

“As mães negras tendem a ter filhos mais cedo, e isso retroalimenta a situação desfavorável no mercado de trabalho. Consequentemente, vai repercutir no nível salarial”, diz Feijó.

As mães solo que tiveram o primeiro filho mais tarde, por volta dos 27 anos, tendem a apresentar um rendimento médio em torno de R$ 1.700, diz o levantamento. É mais do que o dobro da renda de quem virou mãe com 15 anos ou menos (R$ 800).

No quarto trimestre de 2022, 29,4% das mães solo estavam fora da força de trabalho no Brasil. Considerando somente as mães solo com filhos menores, de até cinco anos, a proporção era maior, de 32,4%.

Entre as mães solo negras, o percentual fora da força era de 31% para aquelas com filhos de diferentes idades e de 34,6% para aquelas com filhos de até cinco anos. Entre as brancas e amarelas, a proporção estava em 26,6% e 27,5%, respectivamente.

A população fora da força é composta por profissionais que não estão empregadas nem procurando ocupação.

Segundo Feijó, um dos reflexos das dificuldades de inserção no mercado de trabalho é a ida de mães solo para a informalidade.

De um lado, essa escolha pode permitir maior flexibilidade para que as mulheres consigam conciliar trabalho e cuidado dos filhos, diz a pesquisadora.

O efeito colateral é a renda menor que a informalidade costuma gerar na comparação com vagas com carteira assinada ou CNPJ.

“O que acontece é que a maternidade impõe um custo alto para a mãe. Para conciliar maternidade e trabalho, ela muitas vezes vai para uma ocupação informal”, analisa a pesquisadora.

O estudo ainda chama atenção para a evolução dos domicílios cujas pessoas de referência são mães solo no Brasil. O número aumentou de 9,6 milhões no quarto trimestre de 2012 para 11,3 milhões no quarto trimestre de 2022.

Isso significa um incremento de 17,8% na década, o equivalente a 1,7 milhão a mais de mães solo no período. Segundo o estudo, 90% desse aumento (1,5 milhão) veio de mães solo pretas e pardas, que passaram de 5,4 milhões para 6,9 milhões entre 2012 e 2022.

Fonte: Folha de S. Paulo

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