A demanda por combustíveis fósseis deve cair um quarto até o final desta década se os governos desejarem limitar o aquecimento global em 1,5°C acima do patamar do período pré-industrial, concluiu a AIE (Agência Internacional de Energia).
Carvão, petróleo e gás natural precisarão ser substituídos por energia limpa em um ritmo acelerado para manter o mundo no caminho de zerar as emissões líquidas de gases de efeito estufa até 2050, afirmou a agência de monitoramento energético financiada pela OCDE em sua avaliação anual.
As projeções são o mais recente aviso para o setor de petróleo e gás desde que a AIE surpreendeu a indústria em 2021 ao afirmar que não há espaço para novos projetos de exploração se quisermos limitar o aquecimento global.
As últimas projeções da agência surgem em um momento de crescente tensão com os produtores de petróleo antes das negociações climáticas da ONU nos Emirados Árabes Unidos, na COP28, dentro de dez semanas, com o cartel da Opep acusando a AIE de alimentar a “volatilidade” e afastar investidores.
A indústria de petróleo e gás também tentou minar as projeções da AIE, intensificando a retórica, na semana passada em uma conferência bienal em Calgary (Canadá).
Por sua vez, a agência reiterou sua visão de que novos campos de petróleo e gás enfrentariam “grandes riscos comerciais” se os cortes necessários na demanda fossem feitos, dados os fornecimentos de projetos já existentes.
Mas a AIE também alertou que o fornecimento de energia limpa precisa se expandir de acordo com a redução do fornecimento de combustíveis fósseis, para evitar escassez de energia e aumentos de preços.
“O resultado serão preços elevados prolongados se a queda nos investimentos em combustíveis fósseis nesse cenário prescindir da expansão de energia limpa”, disse, observando que uma transição “ordenada” está “longe de ser garantida”.
Fatih Birol, diretor-executivo da AIE, afirmou que alguns combustíveis fósseis ainda serão necessários até 2030 e os governos precisam “fornecer o quadro” para garantir uma transição suave para energias mais limpas.
A AIE foi fundada após os embargos de petróleo árabes na década de 1970 para dar aconselhamento em segurança energética. Seus membros são provenientes de países da OCDE e incluem os Estados Unidos, o Reino Unido e o Japão.
As observações da AIE foram feitas com base em seu último relatório, que apresenta sua avaliação do caminho para reduzir as emissões líquidas a zero até 2050.
Isso é considerado crucial para limitar o aquecimento global a idealmente 1,5°C acima dos níveis pré-industriais até 2050, e bem abaixo de 2°C, conforme estabelecido em um compromisso assinado por quase 200 países no Acordo de Paris, de 2015.
A AIE afirmou que “políticas rigorosas e eficazes”, de acordo com suas projeções, “impulsionariam a implantação de energia limpa e reduziriam a demanda por combustíveis fósseis em mais de 25% até 2030 e 80% até 2050”.
Isso implicaria em uma queda na demanda de petróleo de 100 milhões de barris por dia para 77 milhões de barris por dia até 2030. Uma queda na demanda de gás natural de 4.150 bilhões de metros cúbicos em 2022 para 3.400 bilhões de metros cúbicos no mesmo período.
Segundo a AIE, houve “desenvolvimentos positivos” nos últimos dois anos, incluindo a rápida adoção de painéis solares e veículos elétricos.
No entanto, a agência pediu “ações mais audaciosas”, com maiores investimentos em energia limpa, para aumentar de US$ 1,8 trilhão este ano para US$ 4,5 trilhões anualmente até o início da década de 2030.
Alertou ainda que avançar muito devagar poderia resultar em custos significativos, potencialmente chegando a até US$ 1,3 trilhão por ano para remover as emissões de dióxido de carbono do ar após 2050, em vez de evitá-las desde o início.
Isso seria 50% a mais do que o investimento total no fornecimento de combustíveis fósseis em 2022 e resultaria em “um grande desafio que requer uma estreita cooperação internacional”, afirmou a agência.
Birol também criticou a decisão do primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, de adiar a proibição da venda de carros a gasolina e diesel até 2035, afirmando que as economias avançadas devem liderar e “aumentar a ambição em vez de reduzi-la”.
“Manter vivo o objetivo de limitar o aquecimento global a 1,5°C requer que o mundo se una rapidamente. A boa notícia é que sabemos o que fazer —e como fazer.”
Fonte: Folha de S. Paulo
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