O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, avalia que a agenda climática também é dos Bancos Centrais de todo o mundo, já que a política de juros é muito afetada pelos eventos climáticos que distorcem os preços da economia.
Em entrevista à Folha, Campos Neto reconheceu que a “narrativa” do Brasil para a agenda verde melhorou.
“Os investidores e as pessoas entenderam que há uma preocupação [no Brasil], que tem projetos, qual o sequenciamento deles e para onde está indo em termos de medidas de sustentabilidade”, afirma o presidente do BC.
Para ele, o Brasil tem uma vantagem e deveria ser visto como um grande produtor de bens que utilizam energia sustentável.
“Nessa rearrumação de cadeias produtivas, como estamos vendo no mundo, o Brasil é um sério candidato para atrair muito investimento de produtos que são produzidos por energia sustentável. Poucos países têm as condições que o Brasil tem de energia sustentável.”
Segundo Campos Neto, os BCs mundiais tinham dificuldade de correlacionar a agenda verde com seus mandatos. Mas passaram a entender que se trata de uma pauta das autoridades monetárias.
“Agora, está muito claro que, se tivermos problemas climáticos em sequência isso também afeta a política monetária, porque tem distorção de preços, afeta logística e energia. Afeta os juros e, em última instância, afeta a estabilidade financeira”, afirma.
Durante o governo de Jair Bolsonaro (2019-2022), Campos Neto era considerado voz destoante na área ambiental por defender que o país avançasse na discussão de uma agenda ecológica.
Ao ser questionado se essa falta de engajamento teria feito o Brasil perder investimentos para transição verde, ele disse que o tema da sustentabilidade vem se desenvolvendo gradativamente, em ondas.
“Teve uma onda que era uma grande preocupação de produzir energia verde. O Brasil fez muitos projetos e tem hoje uma matriz bastante verde. Na segunda onda, veio a produção de alimentos. Precisávamos produzir alimentos de forma sustentável e o Brasil avançou muito nisso”, diz.
A terceira e mais recente, na avaliação do presidente do BC, chegou com consumidores, empresas e investidores começando a se preocupar sobre o tema.
“Eles só queriam investir em países que tinham uma preocupação com a sustentabilidade. Nesse terceiro movimento, foi o que eu chamei atenção no passado, a gente precisava ter uma mensagem melhor. Tinha uma narrativa que era entendida lá fora de tal forma que [o Brasil] não fosse preocupado com a sustentabilidade. Alertei naquele momento que essa narrativa poderia custar investimentos”, lembra ele.
Em junho de 2020, um grupo de 29 gestoras de capital de países como Reino Unido, Suécia, Noruega, Holanda e Japão enviou uma carta aberta a diferentes embaixadas do Brasil no exterior expondo preocupação com o desmatamento acelerado na Amazônia.
A manifestação desses fundos de investimento e de pensão, que juntos administravam cerca de US$ 4,1 trilhões (R$ 21,6 trilhões), preocupou então o Palácio do Planalto, que passou a temer uma fuga de investimentos com a deterioração da imagem internacional do país.
“Eu ajudei a coordenar uma resposta para ela [carta], a agenda do Brasil tem se modificado muito. Ele tem se mostrado muito mais numa agenda pró-sustentabilidade. O mundo reconhece isso. A narrativa melhorou.”
Fonte: Folha de S. Paulo
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