No Brasil, a hora de trabalho de um homem no cargo de diretor financeiro pode valer até 3,9 vezes a hora de trabalho de uma mulher. A de um gerente financeiro, de crédito ou de vendas, ou de um diretor administrativo ou geral pode variar de 1,8 a 3,4 vezes entre os gêneros.
Esses não são os únicos cargos com diferença salarial, mas são os que apresentaram maior distância entre homens e mulheres. A conclusão é de análise da Folha com base na Rais (Relação Anual de Informações Sociais) de 2022, divulgada em abril.
Os dados também indicam que a disparidade aparece com bastante frequência em cargos de liderança.
Em reais, o valor mediano do salário/hora de um diretor financeiro, por exemplo, é de R$ 85,24, enquanto o de uma mulher no mesmo cargo, de R$ 21,86. Ao todo, 6.903 profissionais ocupavam esse cargo em 2022: 56,4%, homens e 43,5%, mulheres.
A reportagem optou pelo uso da mediana, e não da média, para identificar o ponto central na distribuição dos salários/hora dos trabalhadores para cada cargo, a fim de evitar que o valor fosse afetado por remunerações extremas, sejam muito baixas ou altas. O levantamento considera apenas as ocupações que possuíam ao menos mil funcionários de cada gênero em dezembro de 2022, o que totalizou 685 profissões.
Por hora trabalhada, a diferença pode chegar ao máximo de R$ 73. É o caso dos diretores gerais de empresas (exceto organizações de interesse público). Em 2022, os homens que ocupavam esse cargo recebiam, por hora, R$ 103,50, enquanto as mulheres, R$ 29,97.
Além dos postos de alto escalão, a falta de paridade salarial aparece com frequência em ofícios ligados às ciências exatas, como o de economista do setor público e o de corretor de valores, ativos financeiros, mercadorias e derivativos.
A análise mostra que quando um homem ganha mais do que uma mulher, ele também tem um salário/hora maior do que o valor médio da ocupação, que considera as remunerações de todos os funcionários desempenhando aquela função. Esse cenário é visto em 527 das 685 ocupações analisadas pela reportagem.
Já as mulheres saem à frente dos homens e do valor mediano da ocupação em 132 das 685 profissões analisadas, o que corresponde a apenas 19%. Mas quando elas recebem mais, o valor é de apenas R$ 16 pela mesma hora de trabalho. É o caso de diretoras de recursos humanos ou praças da Aeronáutica.
Apesar de lentos avanços de equidade no mercado de trabalho, parte da explicação dessa diferença ainda se dá pelos papeis sociais historicamente relegados às mulheres, na avaliação de Diana Gonzaga, professora de Economia da UFBA (Universidade Federal da Bahia) e pesquisadora do Gefam (Grupo de Estudos em Economia da Família e do Gênero).
“A disponibilidade das mulheres é, em geral, menor que a dos homens em função não das escolhas pessoais delas, mas do peso maior de responsabilidade doméstica e de cuidados que são impostos a elas. Assim, no cenário de cargos de liderança, homens se apresentam como mais disponíveis em relação ao tempo, como nos finais de semana, por exemplo, em comparação às mulheres”, afirma.
Fonte: Folha de S. Paulo
www.contec.org.br