Nesta segunda-feira, motoristas de aplicativos deflagraram uma paralisação da categoria, com perspectiva de interromper os serviços em todo o Brasil. O movimento é chamado de day-off, ou seja, 24 horas sem atividade. A manifestação começou às 4h de hoje e deve se estender até as 4h desta terça-feira, dia 16.
Nesta manhã, no Rio, cerca de 40 motoristas se concentraram em frente ao aeroporto Santos Dumont. Por volta das 8h, eles seguiram em carreata até o prédio da Uber, também no Centro da cidade, para uma manifestação. Policiais militares e agentes da Guarda Municipal acompanham o protesto.
A categoria reivindica que o valor das corridas seja de ao menos R$ 10 (hoje fica em torno de R$ 6), aumento do valor pago pelo quilômetro rodado e redução do percentual das corridas descontado pelas empresas.
— O desconto hoje oscila entre 40% a 60%, o que é muito alto. Estamos pedindo que essa fatia caia. Tivemos reuniões com as duas empresas (Uber e 99) na semana passada mas, por enquanto, só negativas — explica Luiz Corrêa, presidente do Sindicato dos Prestadores de Serviço por Aplicativo do Rio (SindMobi).
Eles querem ainda a cobrança de um adicional para cada parada solicitada pelo passageiro durante uma corrida. Os profissionais pedem também segurança para trabalhar e fim dos banimentos da plataforma sem justificativa.
A motorista Márcia Tatiana Pereira, de 32 anos, que trabalha com aplicativo há 5 anos, também questiona a política da empresa no enfrentamento aos casos de assédio sofridos pelos profissionais, não apenas mulheres. Ela conta que são recorrentes os casos de motoristas que recebem propostas de sexo em troca das corridas e que, comunicada, a empresa diz apenas que “lamenta o ocorrido”:
— Já fui abordada por passageiros perguntando sobre minha vida sexual, me fazendo propostas, oferecendo dinheiro. Mas a resposta é sempre essa: “lamentamos o ocorrido”. Dão apenas a opção de bloquear o passageiro de voltar a pegar corrida comigo, sem banimento, ou seja, a pessoa pode continuar assediando outros colegas — afirma a motorista: — Se cometemos algum erro, e o passageiro aciona a empresa, somos banidos sem direito à defesa. Mas o contrário não acontece.
A paralisação nacional foi convocada por meio das redes sociais, com participação da Federação dos Motoristas por Aplicativo do Brasil (FEMBRAPP).
O que diz a Uber
Procurada, a Uber se manifestou sobre a paralisação dos motoristas por meio de nota, na qual informa que a taxa de serviço cobrada dos motoristas parceiros pela intermediação de viagens deixou de ser um percentual fixo em 2018, quando a empresa aprimorou seu modelo para equilibrar as variações entre o preço pago pelo usuário e os ganhos do parceiro.
E acrescentou que, em qualquer viagem, o motorista parceiro sempre fica com a maior parte do que é pago pelo usuário. Como a taxa é variável, existe uma oscilação natural para cima e para baixo porque em algumas viagens o percentual pode ser maior enquanto, em outras, pode ser menor.
“Um motorista parceiro ativo realiza dezenas ou centenas de viagens na semana, por isso a taxa média é mais representativa de quanto ele está pagando pela intermediação. Essa informação é destacada no compilado semanal enviado por e-mail aos parceiros: nas redes sociais, é possível encontrar parceiros que divulgam esses e-mails pessoais e exibem taxas médias inferiores a 5% e até mesmo 2%, por exemplo”.
Na nota, a Uber lembra que, nesta semana, anunciou que vai aumentar mais um nível na transparência e passar a exibir, em todos os recibos de viagens feitas pelo motorista, qual foi a taxa média considerando todas as viagens feitas nas quatro semanas anteriores.
De acordo com a empresa, a média global da taxa de intermediação no quarto trimestre de 2022 ficou abaixo de 20%.
“Parte do que pode parecer ser apenas receita para a Uber vai diretamente para cobrir custos como o seguro oferecido em todas as viagens, custos bancários para o processamento dos pagamentos, e investimentos em suporte e desenvolvimento de tecnologia.”
A 99 ainda não se pronunciou sobre o movimento.
Fonte: O Globo
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