As fintechs adoram divulgar que têm bases enormes de clientes, mas como sempre, o diabo mora nos detalhes. É preciso definir o que é cliente. É quem tem conta? Cartão? Empréstimo? Tem banco digital que reporta os downloads do app, tem instituição que considera cliente quem fez alguma movimentação nos últimos 30 dias, ou três meses, ou 12 meses. E como a informação parte da própria empresa, sem uma auditoria externa que confirme isso, sempre paira uma certa desconfiança no ar.
Uma forma de tentar trabalhar com uma base comparável é usar os dados do Banco Central. Quando divulga seu ranking trimestral de reclamações, para calcular o índice, o BC acaba revelando também o total de clientes. Nesse caso, a autoridade soma duas bases distintas: o Cadastro de Clientes do Sistema Financeiro Nacional (CCS) e o Sistema de Informações de Crédito do Banco Central (SCR). No caso do CCS, são considerados os clientes com relacionamentos ativos na instituição no último dia do segundo mês do trimestre de referência. Já no SCR, é considerado o total de clientes com operações ativas na instituição, informados de forma individualizada, na posição do último dia do segundo mês do trimestre de referência. Além disso, o BC pega apenas CPFs e CNPJs distintos (ou seja, evita dupla contagem).
Com base nesses dados, o UBS fez algumas comparações. Juntos, os cinco principais bancos incumbentes do Brasil têm 480,1 milhões de clientes, ou 53% do total de clientes bancários do país, que é de 909,7 milhões. A lista é liderada por Caixa (148,3 milhões de clientes), seguida de Bradesco (101,8 milhões), Itaú (95,5 milhões), Banco do Brasil (73,6 milhões) e Santander (61,0 milhões).
Depois, o UBS analisou os cinco principais novos entrantes. Juntos, eles têm 193,7 milhões de clientes, ou 21% do total de clientes bancários do país. A lista é liderada por Nubank (64,8 milhões de clientes), seguida de Original (42,2 milhões), Mercado Pago (39,4 milhões), PagBank (25,9 milhões) e C6 (21,3 milhões).
Pelos números é possível ver que o Nubank ultrapassou o Santander e hoje é o quinto maior banco do país em número de clientes.
Apesar de os incumbentes ainda terem uma fatia muito maior que os entrantes, as instituições digitais têm andando mais rápido nessa corrida. Este ano o Brasil ganhou 111,0 milhões de novos clientes bancários. Desse total, somente 14% foram para os cinco maiores bancos tradicionais, enquanto 40% foram para os cinco principais neobancos. Quem mais conquistou clientes este ano foi Nubank (14,9 milhões), Mercado Pago (11,9 milhões), C6 (7,7 milhões), Original (6,3 milhões) e Inter (6,1 milhões).
Ter uma base enorme de clientes, no entanto, não é garantia de lucro. Se eles transacionam pouco, o banco terá poucas receitas de tarifas. Além disso, onde as instituições financeiras mais ganham é na concessão de crédito. Dessa forma, usando os dados do BC, o UBS analisou qual a penetração de crédito nas bases de clientes dos bancos.
Nos incumbentes, a penetração de crédito é liderada por Itaú (58%), seguida de BB (48%), Santander (42%), Bradesco (39%) e Caixa (20%). Segundo o UBS, o porcentual na Caixa é menor possivelmente em função do grande número de clientes do banco que apenas recebe benefícios sociais por lá.
Nos bancos digitais, a penetração de crédito é liderada por Nubank (51%), seguido de C6 (33%), Original (10%), Mercado Pago (10%) e PagBank (1%).
“Os novos entrantes brasileiros têm tido muito sucesso em adicionar clientes às suas plataformas, embora a maioria deles ainda esteja nos estágios iniciais do negócio de crédito e precise ganhar importância”, diz o UBS.
Olhar o total de clientes é apenas uma das formas de analisar quem é o maior. É possível olhar também participação de mercado, valor de mercado, ativos totais, carteira de crédito, entre outros fatores.
Por ter uma abrangência mais ampla e abarcar todo tipo de instituição financeira, os ativos totais acabam sendo um dos parâmetros mais usados. Nesse quesito, os maiores conglomerados financeiros do Brasil são: BB (R$ 2,021 trilhões em ativos), Itaú (R$ 1,960 trilhão), Caixa (R$ 1,484 trilhão), Bradesco (R$ 1,431 trilhão) e Santander (R$ 987,895 milhões).
Os cinco principais entrantes ficam bem atrás. O Nubank tem R$ 94,749 bilhões em ativos, seguido de PagBank/PagSeguro (R$ 34,538 bilhões), C6 (R$ 31,967 bilhões), Original (R$ 31,335 bilhões) e Mercado Pago (R$ 16,009 bilhões). Os dados são do sistema IFData, do BC, e são referentes a março.
Fontee: Valor Econômico