As operadoras de planos de saúde acumularam nos três primeiros trimestres deste ano um lucro líquido R$ 2,27 bilhões. O dado divulgado hoje pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), mostra uma guinada no setor. De janeiro a setembro do ano passado o resultado líquido do setor havia sido negativo em R$ 3,42 bilhões.
Contrariando a previsão das empresas do setor que traçavam um cenário sombrio para 2023, os dados da ANS mostram uma recuperação. E não se trata do chamado “voo de galinha”, diz Jorge Aquino, diretor de Normas e Habilitação das Operadoras da ANS. Ele afirma que tudo aponta para que se retome o desempenho pré-pandemia, com lucro já neste ano, depois do zero a zero de 2022 e um prognóstico ainda melhor para 2024.
-Não dá para fazer estimativa de quanto o setor fechará este ano. Mas é um fato que o quatro trimestre costuma ser o melhor para as operadoras de planos de saúde e os indicadores mostram que se trata de uma melhora sustentável que leva a retomada dos resultados pré-pandemia.
Para 2024, acreditamos em dados ainda melhores, a sinistralidade (relação entre a receita e o gasto com assistência) está numa tendência de redução, temos aumento do número de usuários do setor. E com economia andando bem, emprego caminhando, tudo aponta para crescimento – avalia Aquino.
Segundo os dados da ANS, a sinistralidade caiu 1,7 ponto percentual do segundo para o terceiro trimestre. Saiu de 88,2% para 86,5%.
O resultado operacional do setor – que contabiliza a receitas das mensalidades e as despesas assistenciais, administrativas e de comercialização – ainda está negativo em R$ 6,3 bilhões. O patamar, no entanto, é menor do que os registrados no mesmo período do ano passado quando estava negativo em R$ 10,9 bilhões.
O lucro registrado pelo setor veio da recomposição das receitas via reajustes, que este ano foram bem mais altos, o aumento do número de beneficiários e as receitas financeiras “exuberantes”, explica o diretor da ANS. O setor acumula no terceiro trimestre deste ano R$ 106,9 bilhões em aplicações financeiras. Desse total, R$ 51,9 bilhões (48,5%) em aplicações livres, ou seja, não estão vinculadas a exigências prudenciais da agência reguladora.
As operadoras costumam questionar o fato do maior resultado da atividade vir do rendimento dos ativos financeiros. Para as empresa, o que deve ser levado em conta é o resultado operacional, não o lucro líquido. Aquino discorda e pondera que para todo o setor que trabalha com recebimento antecipado, como é o caso das operadoras de planos de saúde, o resultado financeiro é importante. E acrescenta que isso nunca foi diferente para o setor:
-Antes do Plano Real, arrisco a dizer que a assistência à saúde era um side business para o setor, o core mesmo era o financeiro. Qualquer setor que receba os recursos de forma adiantada tem a obrigação de rentabilizar, seja em aplicações ou com compras antecipadas, com as melhores escolhas que possa usar bem esse dinheiro. O resultado financeiro é o próprio negócio.
O número de empresas operando no positivo, aliás, aumentou 1,6 ponto percentual para 63,4% das 706 operadoras do setor. Aquino afirma que se fossem expurgados os resultados negativos de empresas que claramente enfrentam problemas de gestão, o resultado acumulado pelo setor de janeiro a setembro seria ainda melhor. Ele ressalta que entre as empresas em dificuldade o montante negativo caiu significativamente, enquanto no ranking daquelas com o melhor desempenho, o lucro também teve alta expressiva.
-Retirando os outliers, os dois maiores prejuízos (que somam R$ 2,04 bilhões) e a empresa com maior lucro (R$ 723 milhões), o resultado do setor seria um lucro líquido de R$ 3,6 bilhões.
Mais uma vez, no topo do ranking das empresas com resultados negativos estão Amil (que registrou quase R$ 2 bilhões negativos) e Unimed-Rio (com prejuízo de R$ 652, 18 milhões).
Fonte: O Globo
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