A renda média dos brasileiros no último trimestre de 2021 foi de R$ 1.378 em regiões metropolitanas. É o menor valor da série histórica do boletim Desigualdade nas Metrópoles, iniciada em 2012, mesmo com aumento da população ocupada.
O estudo foi produzido em parceria por pesquisadores da PUC-RS, do Observatório das Metrópoles e da Rede de Observatórios da Dívida Social na América Latina (RedODSAL), a partir dos dados da PNAD Contínua trimestral, do IBGE. A sétima edição da pesquisa foi divulgada hoje. Pela primeira vez desde o início da pandemia, a faixa dos mais ricos perdeu mais renda do que a dos mais pobres.
Segundo os pesquisadores, a perda de renda é resultado do impacto da inflação. Em março, o IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15), considerado a prévia da inflação oficial, registrou alta de 0,95%, a maior subida para um mês de março desde 2015. O preço dos alimentos foi o que mais pesou.
O boletim também indica que os mais pobres estão recuperando parte da renda perdida após o início da pandemia da covid-19. Mesmo assim, os rendimentos ainda são 8,9% menores em relação ao patamar imediatamente anterior à pandemia.
O início da recuperação explica-se pela retomada de trabalhos informais, a principal fonte de renda dos mais pobres.
Entre os 40% mais pobres, o rendimento per capita do trabalho subiu de R$ 195 para R$ 239 entre o quarto trimestre de 2020 e 2021. A renda dos 10% mais ricos caiu de R$ 6.917 em 2020 para R$ 6.424 em 2021.
Efeitos da pandemia
Andre Salata, coordenador do estudo, professor da PUCRS e pesquisador do Observatório das Metrópoles, explica que os primeiros efeitos da pandemia foram sentidos pelos mais pobres, que perderam quase um terço da renda, enquanto os mais ricos não sofreram perda de renda no primeiro ano pandêmico.
O quadro começou a mudar no final de 2021.
Com a vacinação, a renda dos mais pobres começou a se recuperar lentamente. Enquanto isso, os mais ricos sofreram mais, porque a queda da renda é mais clara. Por um lado, há uma redução do gap, o que faz a desigualdade cair, mas a renda dos mais ricos faz a média cair também.Andre Salata, coordenador do estudo Desigualdade nas Metrópoles
Famílias com renda per capita inferior a 1/4 do salário mínimo estão há dois anos enfrentando uma situação de perda de renda. Neste contexto, um dos grupos mais afetados são as crianças.
No quarto trimestre de 2021, 26,7% das crianças de até cinco anos de idade viviam em lares com rendimentos per capita insuficientes. Em termos absolutos, eram 1,6 milhão de crianças em regiões metropolitanas nesta situação.
O número é maior que o da população total de regiões metropolitanas como as de Natal, João Pessoa, Maceió e Florianópolis, entre outras.
No auge da pandemia, o percentual chegou a 32,2% de crianças que viviam em famílias de baixa renda. O menor valor da série histórica foi registrado em 2013, quando o percentual era de 19%.
“Os dados são muito preocupantes. Estudos mostram que a vulnerabilidade econômica na primeira infância prejudica o desenvolvimento cognitivo, o aprendizado e, consequentemente, o rendimento escolar. No longo prazo, estamos falando de barreiras à expansão do capital humano no país e, portanto, ao crescimento econômico sustentado”, alertou Marcelo Gomes Ribeiro, coordenador do estudo, professor do IPPUR-UFRJ e pesquisador do Observatório das Metrópoles.
Quais são as cidades mais desiguais?
No boletim, a desigualdade é medida pelo coeficiente de Gini, que varia de 0 até 1. Quanto mais desigual é a metrópole, a marca fica mais próxima de 1.
No quarto trimestre de 2021, as cinco cidades mais desiguais foram João Pessoa (0,683), Recife (0,669), Natal (0,654), Rio de Janeiro (0,654) e Belém (0,651).
A metrópole menos desigual é o Vale do Rio Cuiabá (MT), composta pelos municípios de Cuiabá, Várzea Grande, Nossa Senhora do Livramento e Santo Antônio de Leverger, com a marca de 0,535.
Em seguida, aparecem Curitiba (0,556), Goiânia (0,562), Florianópolis (0,566) e Macapá (0,585).
Fonte: Uol