Dados da pesquisa “Check-up de Bem-Estar” da empresa de benefícios Vidalink, obtidos em primeira mão pelo Estadão, revelam que 33% da geração Z (1995 – 2009) enfrentam dificuldades financeiras, enquanto 28% das mulheres e 15% dos homens desse grupo relatam não sentir bem-estar no trabalho. Enquanto os millennials (1984-1995) e a geração X (1964-1983), o principal desafio está nos impactos da dupla jornada na saúde mental. Já os baby boomers (1947-1963) convivem com o isolamento social e preocupações relacionadas à saúde física.
A pesquisa, realizada por meio do aplicativo da Vidalink ao longo do 1º semestre de 2024, envolveu mais de 10 mil trabalhadores brasileiros.
Os respondentes são profissionais ativos ou aposentados de 220 empresas atendidas pela Vidalink. Entre as participantes, estão empresas como Apple, iFood, Johnson & Johnson, Nestlé, PepsiCo, Salesforce e Tim.
Para Luis González, CEO e cofundador da Vidalink, a insatisfação envolve alguns fatores principais: o impacto da pandemia em momentos-chave da vida dos jovens, como a faculdade e o primeiro emprego. Além da influência das redes sociais, que tem intensificado comparações e criado expectativas irreais.
As outras gerações não tiveram esse grande desafio. Além do impacto da rede social, existe uma comparação diária com o resto do mundo. As gerações mais novas olham para o pessoal que está há mais tempo nas empresas e diz: ‘Eu não quero ser como essa pessoa’.
Geração Z é a mais impactada pelo descontrole financeiro
A geração Z apresentou maior descontrole financeiro. De acordo com a pesquisa, 33% dos jovens profissionais relatam dificuldade em controlar os gastos. Em contrapartida, 49% dos baby boomers se sentem mais confiantes em relação ao seu orçamento
A discrepância, segundo o CEO, está mais associada à fase da vida do que à geração em si. “Todo mundo, quando ganha o primeiro dinheiro, começa a aprender a usar os recursos financeiros.”
Fatores como estilo de vida e remuneração também impactam a saúde financeira dos jovens. Por priorizarem o equilíbrio entre vida pessoal e profissional e serem os mais adeptos de algumas tendências, como o anywhere office (trabalho de qualquer lugar do mundo), eles podem enfrentar um custo de vida mais elevado.
Por exemplo, trabalhar remotamente parece ideal para a geração Z, como a ideia de trabalhar da praia. Mas, nesse caso, você teria que pagar uma pousada na praia, além das refeições. Então, às vezes, há um custo associado a isso.
Além disso, o CEO aponta a facilidade de consumo. Um exemplo é o pedido de comida por aplicativos. A baixa remuneração em cargos iniciais também entra como fator determinante para o descontrole financeiro da geração Z.
Os salários de entrada geralmente são mais baixos, e as pessoas precisam ganhar mais, especialmente com a inflação. É assustador pensar, por exemplo, em quanto custa um carro hoje em dia. Muita gente da geração Z não quer ter carro, mas quem quer enfrenta um custo cinco vezes maior do que há alguns anos.
Millennials e geração X enfrentam sobrecarga em casa e no trabalho
Outro dado revelado pela pesquisa refere-se às gerações mais velhas, que enfrentam dupla jornada com trabalho e cuidado da família.
- Mais da metade dos millennials, 51%, dedicam grande parte do dia a atividades profissionais, outros 34% lidam com responsabilidades adicionais em casa.
- Já a geração X tem metade dos profissionais passando a maior parte do dia no trabalho e 33% se desdobrando entre afazeres profissionais e domésticos.
A alternativa, para ambas as gerações, passa por oferecer mais flexibilidade. “Millennials e geração X precisam de espaços de trabalho que respeitem o equilíbrio entre vida pessoal e profissional”, afirma González.
Para os baby boomers, que já possuem uma carreira consolidada e estão em transição para a aposentadoria, o desafio é manter um senso de propósito enquanto se adaptam a uma nova rotina.
- De acordo com a pesquisa, 52% já se aposentaram, 22% continuam no mercado de trabalho, 14% estão focados nos cuidados com o lar e a família, 10% ainda enfrentam a dupla jornada, enquanto apenas 1% trabalha e estuda, ou apenas estuda.
Em todas as gerações, o nível de insatisfação com a qualidade de vida e a saúde mental é maior entre as mulheres. Para Luis González, o dado deve acender um sinal de alerta para as empresas. “As mulheres enfrentam mais barreiras financeiras e demandas específicas, que precisam ser reconhecidas e atendidas pelas companhias.”
Especialista aponta falta de educação financeira
Para Letícia Pavim, cofundadora da Rede Pavim, empresa especializada em recrutamento e seleção da geração Z, o descontrole financeiro não é uma exclusividade dos jovens. “A educação financeira brasileira acaba sendo bem falha”, aponta. Outro fator que piora o problema é a remuneração baixa, segundo a especialista.
Hoje em dia, o salário de um jovem analista, por exemplo, dificilmente permite grandes aquisições, como comprar uma casa ou um carro. Com isso, muitos passam a gastar com experiências e prazeres imediatos. Essa busca pelo “agora” é intensificada pelas redes sociais. O pouco dinheiro que sobra é rapidamente gasto, enquanto o planejamento é deixado de lado.
A especialista concorda com o CEO Luis González no que diz respeito ao impacto das redes sociais no bem-estar da geração Z. Ela argumenta que a comparação exacerbada acaba gerando mais frustração na vida pessoal e no trabalho.
As empresas podem implementar ações para apoiar jovens talentos e melhorar a saúde financeira e o nível de bem-estar. Veja algumas dicas apontadas por Letícia Pavim:
- Oferta de trilhas, workshops e palestras sobre educação financeira
- Disponibilidade de ferramentas práticas, como planilhas simplificadas para o controle de gastos pessoais ou familiares
- Parcerias com plataformas de psicólogos e atividades físicas (terapias e benefícios com academias)
“Os jovens valorizam muito o bem-estar. Eles querem ser eles mesmos no ambiente corporativo. Por isso, o equilíbrio entre vida pessoal e profissional é tão importante, porque eles colocam o trabalho como um dos pilares de suas vidas, e não o único e mais importante”, resume Pavim.
Fonte: Estadão
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