A economia brasileira enfrenta uma série de nós para desatar se quiser alcançar o grupo das nações mais ricas. Desde os anos 1980, o Brasil está preso na chamada armadilha da renda média e enfrenta uma longa lista de desafios para mudar de patamar.
O Brasil é uma economia pouco produtiva. Hoje, um trabalhador brasileiro produz em média 20% do que um norte-americano produz. Nos anos 1980, essa distância era menor, de 40%.
E por que isso ocorre? O País conseguiu colocar os alunos nas escolas, mas a qualidade da educação é ruim; a incerteza quanto à economia brasileira é grande, sobretudo na parte fiscal, o que torna os juros mais altos – encarecendo o investimento das empresas e o consumo das famílias; além disso, o Brasil é pouco integrado ao resto do mundo, distante das melhores tecnologias disponíveis.
Os desafios brasileiros
Abaixo, veja o diagnóstico de 10 desafios que o Brasil precisa superar para mudar de patamar.
Renda média
Sem um crescimento robusto, a economia brasileira permanece estagnada na chamada armadilha da renda média. Segundo o Banco Mundial, o PIB per capita do Brasil foi de US$ 9.280 em 2023, o que colocava o País como uma economia de renda média-alta.
Entre as décadas de 1950 e 1980, o País conseguiu superar o patamar de renda baixa para o de renda média. Agora, no entanto, se quiser se tornar uma nação rica, precisará simplificar o ambiente de negócios, avançar na abertura econômica para se integrar ao mundo e melhorar a qualidade do ensino.
Perda de importância global
O Brasil vem perdendo importância na economia global. Em 2025, a participação do País no Produto Interno Bruto (PIB) mundial deve ser de apenas 2,4%, segundo projeção do Fundo Monetário Internacional (FMI). Em 1980, esse porcentual era próximo de 4%. O declínio é resultado do baixo crescimento econômico observado ao longo das últimas décadas e pelas sucessivas crises enfrentadas pelo País.
As previsões para os próximos anos não indicam uma melhora no cenário. O resultado do PIB tem surpreendido nos últimos anos, mas a avaliação é de que não deve ocorrer uma aceleração até o fim da década.
Economia fechada
A economia brasileira é considerada fechada e pouco integrada ao resto do mundo. Isso faz com que o País não participe das principais cadeias produtivas globais e permaneça distante das melhores tecnologias para tornar a sua produção mais competitiva.
Um dos grandes exemplos de empresa integrada à economia global é a Embraer. A companhia é uma das principais do mundo no setor de aviação. Ela não é responsável por todo o processo produtivo, mas se especializou com competência no segmento de aviões de médio porte.
Educação de má qualidade
Os brasileiros têm colhido resultados ruins nas avaliações internacionais, o que deixa os jovens em desvantagem em relação ao resto do mundo. Na última edição do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), o Brasil apareceu em 52.º lugar na avaliação de leitura. Ao todo, 81 países são avaliados. Nas outras provas, o desempenho foi ainda mais fraco: em matemática e ciências, o País ocupou as posições 65 e 61, respectivamente.
Mais tempo na escola, mas ainda é preciso mais
Apesar do resultado ruim nas avaliações internacionais, o Brasil conseguiu melhorar a formação educacional da sua população. Em 1992, 67% da população ocupada não tinha instrução ou possuía apenas o ensino fundamental incompleto. No ano passado, esse porcentual caiu para 19,2%, segundo estudo do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV/Ibre). Na outra ponta, o número de trabalhadores brasileiros com ensino superior completo aumentou de 5,8% para 21,9% no período analisado pelo levantamento.
O Brasil conseguiu uma universalização tardia. Foi só no final do século passado que o País conseguiu colocar de forma maciça as crianças nas escolas (embora ainda não tenha atingido os 100%). Para efeito de comparação, a Coreia do Sul — hoje uma economia rica e considerada um exemplo a ser seguido — universalizou o ensino nos anos 1960.
Embora os números tenham melhorado, o Brasil ainda precisa avançar e garantir um amplo aumento dos anos de escolaridade da sua população.
Informalidade ainda é alta
O aumento do tempo de permanência na escola também contribuiu para uma informalidade mais baixa na economia brasileira. Segundo um estudo do FGV/Ibre, se o Brasil não tivesse avançado nos anos de escolaridade, a informalidade seria de 62,3%, muito acima dos 47,5% observados no ano passado.
A pesquisa considera como informais os brasileiros que trabalham sem carteira, os que atuam por conta própria e os que são trabalhadores familiares auxiliares.
Uma informalidade elevada, como a que o Brasil ainda ostenta, indica que os recursos da economia são canalizados para setores menos produtivos.
Dívida elevada
O Brasil tem um endividamento alto para um país emergente. A Instituição Fiscal Independente (IFI), órgão ligado ao Senado Federal, estima que a dívida brasileira deve ultrapassar o patamar de 100% do PIB em 2030.
O grande problema da dívida elevada é que ela aumenta a percepção de risco quanto ao futuro da economia brasileira. Isso faz com que os juros sejam maiores, encarecendo o consumo das famílias e o investimento das empresas. No fim das contas, o País acaba crescendo menos do que poderia.
A avaliação dos analistas é que o próximo governo terá de resolver a questão fiscal brasileira – seja um governo reeleito ou um de oposição.
Dificuldade estrutural do ajuste fiscal
O Brasil enfrenta uma dificuldade estrutural para fazer o ajuste fiscal necessário. O Orçamento brasileiro é altamente engessado. Boa parte das despesas é carimbada, o que dá pouca margem de manobra para a equipe econômica cortar gastos.
O cenário é ainda mais difícil porque o Poder Executivo tem perdido influência sobre o Orçamento, dado o crescimento do peso das emendas parlamentares, e o País concede uma série de gastos tributários sem uma avaliação regular – ao todo, eles somam R$ 547,3 bilhões, o equivalente a 4,4% do PIB.
A IFI estima que o Brasil precisa fazer um superávit primário de 2,5% do PIB (ou R$ 310 bilhões). A cifra bilionária necessária evidencia que o governo brasileiro terá de rever interesses e benefícios se quiser acertar as contas públicas de vez.
Custo Brasil
Taxa de juros elevada e encargos tornam mais caro investir no País. Projetos relacionados à transição energética, que demandam grandes volumes de investimento, podem perder atratividade se esses custos não baixarem. Especialistas destacam os encargos da energia elétrica, que correspondem por algo entre 55% e 70% do preço pago pelos consumidores.
Em busca do grau de investimento
Com a piora das contas públicas, o Brasil perdeu o grau de investimento – uma espécie de selo de que o país é um bom pagador – em 2015.
Muitos fundos de pensão espalhados pelo mundo só podem investir seus recursos em títulos de economias consideradas seguras, com grau de investimento, porque o risco de calote é menor.
Um dos principais pontos analisados pelas agências de classificação de risco para conceder o grau de investimento é o tamanho do endividamento do país. / Colaborou Luciana Dyniewicz
Fonte: Estadão
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