Nesta quarta-feira (13), o Fórum das Centrais Sindicais promoveu uma live com o tema “Tarifaço e Medidas de Proteção do Emprego e as estratégias para as Campanhas Salariais do 2º semestre”. O encontro, mediado por Clemente Ganz Lúcio, coordenador do Fórum, reuniu os presidentes das oito principais centrais do país: Ricardo Patah (UGT), Sérgio Nobre (CUT), Miguel Torres (Força Sindical), Adilson Araújo (CTB), Moacyr Auersvald (Nova Central), Antônio Neto (CSB), Nilza Almeida (Intersindical) e José Gozze (Pública).
O objetivo foi orientar a organização das campanhas e negociações coletivas e apresentar as próximas etapas de ação conjunta diante do pacote de sobretaxas impostas pelo governo dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, medida que ameaça postos de trabalho e setores estratégicos da economia.
Impactos econômicos e riscos para o emprego
Segundo os dados, os Estados Unidos foram responsáveis por 12% das exportações brasileiras em 2024, somando US$ 40,4 bilhões. O “tarifaço” incide sobre US$ 14,5 bilhões (35,9%) dessas exportações, especialmente produtos metalúrgicos, químicos, alimentícios, madeira, vestuário e calçados. Outros US$ 18 bilhões (44,6%) foram excluídos da sobretaxa de 50%, mas seguem com tarifas adicionais de até 10%, enquanto US$ 7,9 bilhões (19,5%) estão sujeitos a alíquotas específicas já existentes, como 25% para autopeças e automóveis e 50% para aço, alumínio e cobre.
No cenário mais pessimista, a medida pode provocar a perda de até 726,7 mil empregos, queda de R$ 38,87 bilhões no valor adicionado à economia, redução de R$ 14,33 bilhões na massa salarial e impacto negativo de 0,36% no PIB em um ano. Mesmo no cenário moderado, estimativas apontam risco de 188,7 mil demissões, com queda de 0,26% no PIB.
Efeitos nas negociações coletivas
O Dieese identificou 3.075 empresas exportadoras para os EUA com negociações coletivas em curso, concentradas principalmente na indústria (1.933), e distribuídas em 1.459 sindicatos. A maior concentração de datas-base ocorre entre setembro e novembro, abrangendo setores diretamente expostos ao “tarifaço”.
Em 2025, já se observa queda no aumento real médio e no piso salarial das categorias exportadoras, revertendo a tendência positiva de 2023 e 2024. O Dieese alerta que, além dos impactos reais, há risco de empresas usarem o cenário como justificativa para reduzir conquistas, exigindo acompanhamento rigoroso pelos sindicatos.
Posição do governo
Em vídeo, o ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, reforçou que o governo prepara um conjunto de medidas para proteger empregos, estimular novos mercados e fortalecer a economia interna, incluindo compras governamentais simplificadas para absorver produtos afetados, linhas de crédito e exigência de manutenção de postos de trabalho nas empresas beneficiadas. Marinho alertou para a necessidade de sindicatos acompanharem de perto a real situação das empresas, evitando que usem o “tarifaço” como argumento para rebaixar reajustes ou benefícios.
Unidade e mobilização
Dirigentes sindicais defenderam articulação permanente para enfrentar os impactos econômicos e políticos da medida norte-americana.
“O movimento sindical tem um papel essencial, e esta live reúne e fortalece os interesses de todos os trabalhadores do Brasil. Representamos muitos comerciários que serão afetados, direta ou indiretamente, pelo impacto do ‘tarifaço’. No agronegócio, por exemplo, que sustenta boa parte do consumo no interior do país, as consequências também serão significativas. Mesmo onde não haja, de imediato, aumento do desemprego, haverá uma forte redução da renda, especialmente entre os trabalhadores comissionistas. Com sensibilidade e firmeza, é possível equilibrar a relação capital-trabalho, mantendo as empresas ativas e preservando empregos, ao mesmo tempo em que garantimos avanços salariais. O fundamental agora é a solidariedade entre nós, para que possamos enfrentar esse desafio unidos e assegurar resultados concretos para todas as categorias”, afirmou Ricardo Patah, presidente da UGT.
As centrais também reforçaram a importância do 7 de Setembro como dia nacional de mobilização em defesa da democracia, da soberania e dos direitos trabalhistas.
Além do enfrentamento ao “tarifaço”, a agenda do segundo semestre inclui lutas pela redução da jornada de trabalho, fim da escala 6×1, atualização da tabela do Imposto de Renda e taxação dos super-ricos. O Fórum das Centrais reafirmou que a coesão sindical será decisiva para proteger empregos, garantir aumentos reais e fortalecer a economia nacional.
Por Leidiane Silveira