É inegável que o Brasil é o país da renda fixa, e os dados do primeiro semestre de 2025 apenas reforçam esse estigma. De acordo com a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), o volume de investimentos dos brasileiros alcançou R$ 7,9 trilhões até junho. Deste montante, a renda fixa soma R$ 4,7 trilhões e representa quase 60% do total.
Isso significa que, de cada R$ 10 investidos pelos brasileiros, R$ 6 foram aplicados em títulos de renda fixa. Os R$ 4 restantes estão divididos entre fundos de previdência, ações e demais fundos híbridos, como multimercados, ETFs, COEs e mais.
Dentro da renda fixa, os brasileiros ainda têm seus preferidos. Os dados da Anbima mostram que os CDBs (Certificados de Depósito Bancário) saem muito na frente. Um total de R$ 1,15 trilhão de investimentos está alocado nesses papéis.
Trata-se de um crescimento de 9,9% em relação a dezembro de 2024. E tem um detalhe: a maior parte desse avanço foi puxado pelo varejo de alta renda — investidores com maior capital financeiro, mas que não fazem parte do segmento private (acima de R$ 5 milhões, em média).
O saldo de alocação da alta renda em CDBs cresceu 18,5% entre dezembro e junho, enquanto o private aumentou 3,3% e o varejo tradicional, 4,6%.
Depois dos CDBs, as Letras de Crédito do Agronegócio (LCA) e Imobiliário (LCI) são as maiores alocações de renda fixa, com R$ 536,7 bilhões e R$ 426,5 bilhões, respectivamente. O crescimento desses dois títulos também foi substancial no primeiro semestre. A alocação em LCA aumentou 13,2%, e em LCI, subiu 17,7%.
As ações ficam no meio-termo, entre os CDBs e as Letras de Crédito, com R$ 767,3 bilhões investidos até o fim de junho de 2025. O crescimento da alocação no semestre, no entanto, foi pequeno: de 4,2%.
Investimento por classe — de renda — em 2025
Desde dezembro, os brasileiros investiram 6,8% a mais, um aumento de R$ 505,5 bilhões em volume de capital.
A alta veio principalmente do varejo de alta renda, que aumentou em 10,7% sua alocação geral, conforme os dados da Anbima. O varejo tradicional aumentou em 4,1% e o segmento private aumentou em 5,4%.
- A segmentação de varejo “alta renda” e “tradicional” é feita pelas instituições financeiras, que avaliam o patrimônio do cliente para classificação interna. No segmento private, essa atribuição costuma ficar, em média, acima de R$ 5 milhões.
O aumento de alocação pelo varejo tradicional que mais chamou a atenção da Anbima no primeiro semestre foi em ações. A alta foi de 19,5% por essa classe de investidores, muito superior aos 6,4% da alta renda e do 1,4% do private.
Luciane Effting, presidente do Fórum de Distribuição da Anbima, atribui esse movimento ao maior ímpeto por diversificação dos investidores. Ela destaca que o Ibovespa teve um ótimo desempenho neste primeiro semestre, com uma alta de 15%.
Top 3 varejo tradicional:
- Ações: +19,5% (alta de R$ 15,5 bilhões)
- Debêntures incentivadas: +18% (alta de R$ 3,2 bilhões)
- LCI: +16,9% (alta de R$ 23,4 bilhões)
Na alta renda teve o aumento significativo de CDBs, mas a maior variação ficou para outra renda fixa: debêntures incentivadas. A alocação disparou 27% entre dezembro e junho, muito próximo dos 23,7% de alta nos investimentos em LCI no mesmo período.
Para a Anbima, dois motores estão impulsionando esses títulos. O primeiro é o juro alto, na faixa de 15% ao ano, que proporciona um retorno bastante significativo. O segundo é a possibilidade de tributação desses títulos pelo governo federal a partir do próximo ano.
Top 3 varejo alta renda:
- Debêntures incentivadas: +27% (alta de R$ 6,4 bilhões)
- LCI: +23,7% (alta de R$ 17,9 bilhões)
- Títulos públicos: +18,7% (alta de R$ 16,6 bilhões)
- Bônus: CDBs: +18,5% (alta de R$ 75,7 bilhões — maior volume financeiro geral)
Por fim, o segmento private. A alocação dos super-ricos neste começo de ano se concentrou nos títulos públicos e isentos — que podem deixar de ser isentos em breve.
A posição em títulos públicos aumentou 17,8%, seguida pelo aumento em LCI e em LCA. A Anbima acredita que a abordagem mais conservadora se dá pelo alto retorno proporcionado pelos juros, mas também pelo benefício fiscal dos títulos isentos.
“Essa taxa mais alta permite essa posição mais confortável, ao mesmo tempo em que você protege parte do portfólio da inflação. O título permite esse ganho. Enquanto os títulos isentos têm esse cenário de ameaça à tributação”, diz Effting.
Top 3 segmento private:
- Títulos públicos: +17,8% (alta de R$ 6,9 bilhões)
- LCI: +15,5% (alta de R$ 23 bilhões)
- Debêntures tradicionais: +12,3% (alta de R$ 3 bilhões)
por Monique Lima
Fonte: Seu Dinheiro
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