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Latam sairá da recuperação judicial com dívida 35% menor

postado Assessoria

No início do processo, há dois anos e cinco meses, empresa tinha débitos de US$ 18 bilhões, sendo a parte financeira de US$ 11 bilhões. Família Cueto deixará de controlar a companhia

Dois anos e cinco meses depois de ter entrado em recuperação judicial, a Latam dá os últimos passos para sair do processo. A empresa chilena anunciou que deve deixar o Capítulo 11 (a lei de falências e recuperações judiciais dos Estados Unidos) na primeira semana de novembro, após nova leva de financiamentos, como antecipou a coluna Capital. E com uma dívida 35% menor.

Em paralelo, haverá uma dança das cadeiras de seus acionistas: um grupo de credores liderados por três fundos fará um aporte na companhia e passará a ter dois terços das ações, assumindo seu controle.

Os principais acionistas da Latam hoje são a família Cueto, a Qatar Airways e a Delta Air Lines, que, juntos, detêm 46% de seu capital social. Eles serão diluídos, passando a deter uma fatia de cerca de 27%.

Um conglomerado de credores — entre os quais se destacam os fundos Sixth Street, Strategic Value Partners e Sculptor Capital — passarão a deter 66% do grupo. Os acionistas minoritários devem ficar com o restante, se decidirem aportar mais recursos na empresa.

A diluição dos acionistas já estava prevista na última versão do plano. Mas não se sabia qual seria a nova configuração, uma vez que a conversão da dívida em participação acionária é opcional. Inicialmente, a família Cueto resistia em perder o controle da empresa, mas acabou cedendo após negociações intensas.

— Para evitar uma falência ou mesmo uma oferta hostil (quando um investidor faz uma proposta diretamente aos acionistas, sem negociação prévia com a diretoria ou Conselho de Administração), a família Cueto teve que aceitar a diluição — afirma Ana Carolina Monteira, responsável pela área de reestruturação do escritório Kincaid e advogada de um grupo de credores.

Cinco membros no Conselho

Com essa modificação acionária, os credores principais vão nomear cinco dos nove membros do Conselho de Administração da Latam. O valor do aporte que eles farão na empresa não foi relevado. A família brasileira Amaro, fundadora da TAM, não detém mais participação no grupo, apenas na subsidiária brasileira, a Latam Brasil.

O grupo anunciou ontem a contratação de crédito novo para manter suas operações e quitar um importante financiamento contraído no âmbito do processo de recuperação judicial que venceu ontem e cujos emissores tinham prioridade no recebimento dos créditos.

São três tipos de operações. Um deles é um financiamento de curto prazo no valor de US$ 1,146 bilhão, que deve ser liquidado na primeira semana de novembro, quando da saída da Latam do Capítulo 11. A companhia espera pagá-lo com recursos a serem recebidos dos acionistas e de credores.

A empresa também levantou US$ 2,25 bilhões em financiamentos e títulos a serem pagos em prazos máximos que variam entre cinco e sete anos. Por fim, obteve uma linha de crédito rotativa de cerca de US$ 500 milhões.

Líder de mercado

Com os recursos e o atual caixa da companhia, o grupo Latam espera sair do processo de reestruturação com US$ 2,2 bilhões de liquidez e uma redução da dívida de cerca de 35% em relação ao início do processo, disse em nota o CEO da Latam, Roberto Alvo.

Quando pediu recuperação judicial nos Estados Unidos, em maio de 2020, seus débitos listados no processo somavam cerca de US$ 18 bilhões. A dívida financeira era de US$ 11 bilhões.

A Latam foi fortemente impactada na pandemia, devido às restrições sanitárias, que suspenderam voos no Brasil e para o exterior. A empresa era a que tinha maior operação de voos internacionais. Com o processo de recuperação judicial, a companhia já recuperou boa parte da malha.

Ganho para consumidor

A empresa também é líder no mercado doméstico e internacional, com fatias de 40% e 16,7%, respectivamente, segundo os últimos dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), referentes a agosto. Nos voos nacionais, Gol (30,9%) e Azul (28, 75%) vêm em seguida.

O advogado e ex-diretor da Anac, Ricardo Fenelon Jr., considera que a Latam sairá mais organizada e eficiente do processo de recuperação judicial.

— Apesar de a recuperação não ter sido no Brasil, é o caso de uma companhia muito importante aqui, que passou por este processo e vai sair dele. Já tivemos outras que passaram por esse processo e depois faliram — diz ele, citando Varig e Transbrasil.

Nesta reorganização, segundo ele, a Latam sai com uma perspectiva melhor para seus negócios, com ganho para o consumidor.

— Quando uma empresa tem menos custo e se torna mais eficiente, a tendência é que o consumidor também ganhe porque o preço da passagem pode diminuir e, com isso, a concorrência aumenta.

Durante o processo de recuperação judicial da Latam, a Azul disse que estava tentando comprar a empresa e negociando formas de viabilizar a aquisição diretamente com credores. A Latam, no entanto, acabou conseguindo fechar acordo com eles em um período de exclusividade de negociação que lhe era garantido pela Justiça dos EUA.

Fonte: O Globo

www.contec.org.br

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