Os trabalhadores brasileiros com algum tipo de ocupação tiveram a pior renda média no segundo trimestre desde 2017. Foi o que mostrou um levantamento realizado pela consultoria IDados, com base em indicadores da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), referentes ao segundo trimestre do ano, nos últimos quatro anos.
O estudo leva em consideração a renda real habitual da principal ocupação de quem está inserido no mercado, seja em atividades formais ou informais, já descontada da inflação.
Em junho deste ano o rendimento médio teve uma queda de quase 7% em relação ao mesmo período do ano passado. Em 2020, esse valor ficou em R$2.433, contra R$2.613, de julho de 2021.
Fatores que contribuíram para a queda no rendimento
A pandemia, o desemprego e a subocupação, além dos reflexos da inflação, são alguns dos fatores que contribuíram para a queda no rendimento médio de quem exerce alguma atividade remunerada no Brasil.
“A pandemia prejudicou a renda média dos brasileiros que trabalham. Os que estão regressando ao trabalho estão encontrando um mercado fragilizado e isso prejudica a renda”, afirma o autor do levantamento, o pesquisador líder do mercado de trabalho da IDados, Bruno Ottoni.
A subocupação por insuficiência de horas, ou seja, pessoas que trabalham menos de 40 horas por semana mas estariam dispostas a trabalhar mais, atingiu o recorde da série. Os trabalhadores estão trabalhando menos horas do que gostariam e, consequentemente, tendo uma renda real menor. A maioria dos empregos são informais e a inflação elevada prejudica ainda mais esse quadro.
O pesquisador esclarece ainda que o aumento do rendimento médio ocorrido no ano passado não pode ser considerado como uma melhora já que aconteceu como reflexo do desemprego da pandemia.
“No auge da pandemia muitos trabalhadores deixaram de fazer parte da população ocupada, então a renda deles deixou de contar para a renda dos ocupados. Na pandemia, os que saíram foram os informais, com renda mais baixa. Com a saída de quem tem a renda mais baixa, a renda média sobe”.
Nem o retorno dos trabalhadores informais e por conta própria, após o avanço da vacinação, evitou o a queda da renda.
“À medida que a economia foi se recuperando, as pessoas voltaram (ao mercado). Mas essas foram as que tinham saído, as menos qualificadas. Mesmo com a abertura gradual ainda há restrições, com muitos setores obrigados a permanecer fechados. Estádios, casas de show, teatros, em vários estados”, diz o pesquisador da IDados.
Desemprego maior também prejudica renda de quem trabalha
Apesar do recuo da taxa de desemprego no 2° trimestre de 2021, que ficou em 14,1%, 0,6% a menos do que no trimestre anterior (14,7%), 14,4 milhões de brasileiros ainda fazem parte desse universo, de acordo com o IBGE. O desemprego também contribui para que os empregos disponíveis tenham salários mais baixos, o que também influencia na queda da renda.
De acordo com o levantamento do IDados, trabalhadores que não conseguiram se recolocar em um emprego formal procuraram alguma fonte de renda em atividades informais ou por conta própria, tais como motorista ou entregador de aplicativo, por exemplo, para garantir o seu sustento.
O pesquisador Bruno Ottoni explica que os trabalhadores informais ou por conta própria puxaram a retomada do emprego na pandemia, mas a qualidade desse emprego contribui para a queda da renda dos brasileiros.
“Esses empregos não oferecem as 40 horas semanais e as pessoas acabam trabalhando menos horas do que precisam, e recebendo menos por isso. Isso prejudica o seu rendimento”.
Fonte UOL
Diretoria Executiva da CONTEC