Em entrevista ao CB.Agro, presidente da instituição afirma que haverá dinheiro suficiente no Plano Safra para atender os clientes que procurarem as agências, e que, se for preciso, buscará novas fontes de recursos
O presidente do Banco do Brasil, Fausto de Andrade Ribeiro, afirmou, ontem, que a instituição terá R$ 200 bilhões destinados ao Plano Safra 2022/23. Na aplicação desse montante, a prioridade será o produtor final. O aumento para as linhas de crédito do agronegócio foi de 44% neste ano. Mas a distribuição do volume total será de 80% a 85% para o produtor rural e de 20% a 25% para a agroindústria. “O negócio relativo à produção rural despertou interesse em muita gente. Tem novos agricultores buscando recursos e eu espero que o valor que está sendo alocado dê conta de atender a todo mundo”, disse Ribeiro, em entrevista ao programa CB.Agro, realizado em parceria pelo Correio Braziliense e a TV Brasília.
De acordo com o presidente do BB, a distribuição das linhas de crédito rural poderá começar nas próximas semanas, já que aguarda apenas a aprovação de projeto de lei (PLN 14), em tramitação no Congresso Nacional. Após a sanção presidencial do projeto, o Ministério da Economia vai elaborar um decreto para autorizar as secretarias de Orçamento Federal e do Tesouro Nacional a realizar os repasses aos bancos e equalizar o custo das linhas de crédito. Por isso, segundo Ribeiro, é importante que,tão logo os recursos sejam liberados, os produtores já comecem a buscar os créditos e iniciem o plantio da safra no período certo.
A informação vai de encontro à preocupação das instituições financeiras que estavam inseguras em relação à falta de notícias do governo. “Realmente é um número significativo, que visa dar suporte e apoiar o homem do campo, principalmente aquele que já é nosso cliente. Então, o recado é para que fiquem tranquilos, procurem uma agência do Banco do Brasil que serão muito bem atendidos. Teremos recursos suficientes para aportar à safra 2022/23 que acabou de iniciar”, disse. Confira os principais trechos da entrevista dada à à editora de Política local do jornal, Ana Maria Campos:
O Banco do Brasil vai liberar R$ 200 bilhões em crédito para o produtor rural? O senhor pode nos contar mais sobre a expectativa para o Plano Safra 2022/2023?
Apoiar a agricultura e a pecuária é a vocação do Banco do Brasil. A instituição tem 213 anos de história, e, durante boa parte desse tempo, financiou o homem do campo. O nosso histórico está ligado ao agronegócio, principalmente quando o Brasil viveu o ciclo do café, ou da cana de açúcar. Em 1936, tivemos nossa primeira carteira de crédito de agronegócio. Em 1964, o Manual de Crédito Rural, que, hoje, dá todas as diretrizes dos negócios rurais, com as normas vigentes, e nasceu dentro do banco. No ano passado, a previsão inicial era de R$ 135 bilhões no agronegócio brasileiro. A demanda foi tão grande que nós encerramos a safra de 2021 e 2022 com R$ 153 bilhões. O negócio relativo à produção rural despertou interesse em muita gente. Tem novos agricultores buscando recursos, e eu espero que o recurso que está sendo alocado dê conta de atender todo mundo.
Como será subsidiado o orçamento distribuído para o Banco do Brasil? Terá recurso para todos?
Dos R$ 241 bilhões em crédito anunciados pelo governo federal, o Banco do Brasil tem condições de alocar pelo menos R$ 200 bilhões para o homem do campo. Desses, 30% são com recursos que chamamos de equalizáveis. Isso significa que há um diferencial da taxa de juros, entre a taxa de mercado — a Selic está em torno de 13% — e as taxas mais baixas praticadas nos negócios rurais. A compensação desse diferencial é feita pelo Tesouro Nacional. Quando o governo faz essa alocação de recursos para todo o Plano Safra, está falando de recursos equalizáveis. Dos nossos R$ 200 bilhões alocado no campo, apenas 30% dependem disso. Vamos buscar recursos em outras fontes e atender o nosso produtor com um mix de soluções de captação, de forma a alocar as linhas de crédito ao produtor rural da forma mais barata possível.
Junto ao Plano Safra o banco lançou a Carreta Agro, que é uma espécie de assessoria rural itinerante. O que se pode esperar desse instrumento para os produtores rurais?
É um produto adicional para melhorar a qualidade da lavoura. Muitas vezes, o grande agricultor tem um agrônomo residente na propriedade. Já com o pequeno, a dificuldade é maior. O pequeno produtor tem cultivos que passaram de pai para filho. O que nós queremos nessa carreta é levar conhecimento a esse povo. Conhecimento do próprio Banco do Brasil, pois temos mais de 600 agrônomos no nosso quadro. O objetivo é levar informação para o produtor saber quando plantar, quando colher, enfim, qual o melhor método a utilizar na lavoura, para que ele possa ter uma produção maximizada, otimizada nesse período. As carreatas trarão conhecimento em culturas, produção de verduras e legumes, produção de café, controle de pragas, doenças e, por fim, as melhores práticas vão surgir alinhadas ao homem do campo.
Como vocês estão administrando o crédito rural para se adequar à proteção do meio ambiente e às metas globais?
Sabemos que essa é uma pauta intensa, um debate profundo. Nós estamos sendo cobrados pela sociedade para que não tenha desmatamento, e queremos fazer da melhor forma. Essa cobrança é internacional, mas vem também dos nossos filhos, vem da sociedade em geral, do Brasil e de fora. A melhor forma de aumentar a produção sem desmatamento é aplicando tecnologia. A tecnologia é exatamente para permitir que o produtor possa ter uma alavancagem no campo, preservando o meio ambiente. É sabido que o Brasil tem 66% de áreas preservadas. Qual país do mundo tem grande áreas preservadas, e gera tanto emprego e renda na sociedade? Nós somos exemplo, e isso é fruto de um Código Florestal extremamente rígido, que obriga os agricultores a ter, além da área de plantio, uma área de preservação de floresta nativa. E esse percentual oscila de norte a sul do Brasil.
Existe algum incentivo ou algum plano, alguma linha de crédito que beneficie os produtores que mais preservam?
De que forma a gente pode incentivar as boas práticas? Não oferecemos só os treinamentos, mas também soluções financeiras. É certo que desses 66% do nosso território que são preservados, 33%, a metade dessas áreas são de proteção permanente e reservas legais. Os outros 33% são reservas indígenas e parques nacionais. Mas, concentrando-se nessa metade de 33%, a gente vê o seguinte: há custos para a agricultura brasileira, para preservar exatamente esses 33%. Para facilitar que não tenha extração ilegal de madeira, não tenha o risco de incêndios, que os animais não invadam, há um custo de preservação dessas áreas, estimada pela Embrapa em torno R$ 15 bilhões. De que forma o agricultor busca a compensação disso? Hoje, é através só do preço dos produtos que ele comercializa no restante da área em que produz. E o banco criou uma solução chamada CPR Preservação, que é, na verdade, uma linha financeira que busca compensar o valor que ele poderia gerar de rentabilidade naquela área. A gente faz um empréstimo diferente de uma linha normal de crédito, em que o lastro é a floresta em pé. Ou seja, o banco oferece uma solução, que é ajudar o produtor rural a preservar a sua propriedade.
E há proibições de liberação de recursos para quem não obedece as regras ambientais?
Há um mecanismo, uma política rígida de controle interno da empresa, que busca junto ao Ministério da Agricultura e Pecuária, e demais ministérios responsáveis pelo assunto, o cadastro de áreas que estão em conformidade com a legislação corrente. A gente evita, automaticamente, dar crédito para agricultores que estejam praticando coisas fora das normas vigentes. É um trabalho com o meio ambiente saindo do Ministério da Agricultura, operacionalizando, colocando em prática esse plano que, realmente, é um plano que o governo diz que vai ficar na história.
Por que vai ficar para a história?
Está na história do Banco do Brasil já. Nós estamos elevando as condições financeiras. O bolo que vai ser compartilhado para todos os nossos clientes. Na safra de 2021 nós aportamos cerca de R$ 100 bilhões, e já tínhamos feito uma coisa ousada para R$ 135 bilhões. Agora, são R$ 200 bilhões, realmente é um número significativo, que visa, realmente, dar suporte e apoiar o homem do campo, principalmente aquele que já é nosso cliente. Então, o recado é para que fiquem tranquilos, procurem uma agência do Banco do Brasil que serão muito bem atendidos, e teremos recurso suficiente para a safra 2022/23 que acabou de começar. Acredito que foi uma aprendizagem do atual governo. O importante é dizer o seguinte: para que a gente repita pelo menos o que foi produzido na safra passada, terá recurso para todos. A nossa expectativa, através do mix que eu comentei anteriormente, é de conseguir, no Banco do Brasil, trabalhar com taxas mais baixas que as de mercado, para atender a todos, inclusive ampliando o número de agricultores deste país.
O senhor disse, antes, que, na safra passada, saiu de R$ 135 bilhões e acabou em R$ 153 bilhões, um aumento significativo. Será que será possível, além de R$ 200 bilhões ter mais recursos ainda? Sendo otimista?
Tomara que a gente tenha essa surpresa agradável, porque, de fato, o propósito do banco é atender a sua clientela. Se nós tivermos uma demanda superior a isso, vamos ter que buscar recursos de diversas formas, e o banco tem capacidade, tem instrumentos para buscar mais recursos e emprestar.
Fonte: Correio Braziliense
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