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Banco Mundial mostra ser quase impossível alcançar meta de fim da desnutrição infantil

postado Assessoria Igor

O Banco Mundial traz uma notícia ruim. Seu relatório sobre os efeitos da inflação sobre os alimentos indica que será praticamente impossível cumprir a meta segundo a qual a desnutrição infantil deveria chegar ao fim em 2030. Em números, 141 milhões de crianças com menos de cinco anos estão hoje desnutridas, o que equivale a um quinto do total dos menores de idade nessa faixa de idade.

O relatório foi publicado originalmente em 20 de junho e atualizado com novas estatísticas duas semanas depois. O documento, em inglês, está no site da instituição.

A meta de atingir a fome zero entre crianças foi fixada por agências da ONU que tratam de saúde e nutrição que se reuniram numa Assembleia Mundial da Saúde para o Desenvolvimento Sustentável em 2015. A nutrição infantil foi um dos 17 tópicos na pauta.

Documentos do Banco Mundial são redigidos numa linguagem austera e evitam mesmo o menor sensacionalismo ao acompanharem suas próprias metas ou de outras organizações internacionais. Assim, em lugar de uma conotação dramática, o texto sobre a inflação dos alimentos e seus efeitos na carência alimentar procura não abandonar uma tonalidade técnica.

Os países são nominalmente citados apenas quando suas taxas inflacionárias se traduzem em maior insegurança alimentar. O relatório lista, em ordem decrescente, os seguintes países como aqueles que registraram as maiores taxas anuais de inflação de alimentos: Venezuela (450%), Líbano (304%), Argentina (118%) e Zimbábue (117%). O Brasil não é mencionado.

O texto não separa a desnutrição dos adultos da desnutrição infantil. O pressuposto é o de que a inflação fora de controle afeta o acesso de pessoas de qualquer idade ao mercado de alimentos.

É curioso que a instituição financeira opere em sintonia bastante fina ao relatar seus mecanismos de acompanhamento. Entre a versão de seu relatório de junho e o de duas semanas depois, o Banco Mundial verificou que variações mensais de preços registradas a partir de fevereiro deste ano e que não estavam disponíveis no início de junho foram de 3% para os cereais. Os preços do trigo, do arroz e do milho subiram respectivamente 8%, 1% e 2%. No entanto, na sequência de 12 meses, o milho ficou 18% mais barato.

O relatório não tempera as cifras sobre a inflação com os eventuais ganhos reais de renda. Ou seja, não há um cálculo preciso de como as oscilações do poder aquisitivo afetaram o consumo de alimentos. Mesmo assim, entre os economistas, uma das ideias correntes é a de que nos países mais pobres a renda é sistematicamente perdedora ao correr atrás da inflação dos preços.

Estamos falando, então, dos estratos de inflação e pobreza com os quais operam entidades como a OMS (Organização Mundial da Saúde) ou a FAO, a agência da ONU para os alimentos.

Eis alguns dados. No último mês computado a partir de fevereiro, a inflação dos alimentos é maior que 5% em 61% dos países de renda média baixa. E em 81% dos países com renda mais baixa ainda. Os países com renda média alta têm um problema parecido: 77% deles também registram inflação dos alimentos igual ou superior a 5%.

O mesmo fenômeno ocorre com 80% dos países mais ricos. Em 161 países em que as estatísticas são mais constantes e confiáveis, 84% têm uma inflação de alimentos com índices maiores que o aumento geral de preços. Ou seja, a comida pesa bem mais no bolso das pessoas.

O estudo do Banco Mundial não leva em conta fatores estruturais do ponto de vista climático, como as longas estiagens e secas que afetam a agricultura. Tampouco calcula os efeitos do aquecimento das águas do Pacífico na região do Equador, que se reiniciou há pouco tempo e é mais conhecida como El Niño. De forma genérica, no entanto, o relatório menciona a volta do fenômeno térmico e o alerta lançado por autoridades meteorológicas americanas.

Em compensação, o Banco Mundial mostra estar ciente dos efeitos da Guerra na Ucrânia nos preços internacionais da comida. Um anexo ao relatório indica ser inevitável o efeito do conflito nos preços dos grãos, mesmo porque 29% do trigo e 62% das sementes de girassol do mundo vêm da Ucrânia ou da Rússia.

Esses e outros produtos têm sua logística de transporte afetada pela disputa, uma vez que os únicos portos de águas quentes utilizados por esses dois gigantescos exportadores de grãos estão na península da Crimeia, ocupada pelos russos. Os especialistas do Banco Mundial acreditam que países mais dependentes dos grãos russos ou ucranianos são os mais vulneráveis, sobretudo os que esperam ser abastecidos no segundo semestre de 2023.

Fonte: Folha de S. Paulo

www.contec.org.br

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