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Seca extrema levou a umidade mínima, temperatura máxima e solo quente na amazônia central

postado Assessoria

Num ponto superpreservado da amazônia brasileira, numa área central do bioma, a seca extrema de 2023 se fez sentir de uma forma impressionante —palavra usada por cientistas que monitoram indicadores, dinâmicas e comportamentos de uma floresta ainda saudável.

crise do segundo semestre do ano passado —foi a pior seca da história, levando em conta medições de níveis dos rios da Amazônia ocidental— pressionou até mesmo áreas de floresta conservada, que não sofrem influência de desmatamento, ocupações urbanas e atividades predatórias.

O nível de estresse do bioma, que alimenta a preocupação central sobre a amazônia passar a ser mais fonte do que sumidouro de CO2, foi captado em medições exatas pelo Atto (sigla em inglês para Observatório da Torre Alta da Amazônia), um projeto científico fruto de parceria entre Brasil e Alemanha que usa torres de 80 metros e de 325 metros para medições da atmosfera amazônica.

O Atto já tem dados suficientes para uma comparação do que ocorre na floresta, em área da amazônia central, ao longo dos últimos dez anos. A Folha obteve esses dados.

A média das temperaturas máximas do ar, em setembro e a uma altura de 81 metros (acima da copa das árvores), foi de 35,98°C. Sensores do Atto chegaram a captar médias de 38°C no auge da crise, a uma altura de 40 metros.

Setembro e outubro foram os meses de pico da seca extrema, que isolou comunidades ribeirinhas e indígenas, fez rios e igarapés desaparecerem, deslocou grupos e potencializou queimadas e ondas de fumaça.

A umidade do ar, levando em conta a média dos valores mínimos em setembro, também a uma altura de 81 metros, atingiu 20,14%. O solo esquentou, com temperaturas máximas chegando a quase 28°C.

Levando em conta as medições feitas pelos cientistas nos últimos dez anos, de 2014 a 2023, todos esses valores são extremos, os picos registrados para um mês de setembro na área onde estão instaladas as torres.

A realidade mais aproximada do que ocorreu em 2023 foi a de 2015, quando também houve incidência dos efeitos de um El Niño, fenômeno climático que consiste no aquecimento acima da média no oceano Pacífico, perto da linha do Equador. O El Niño impacta temperatura e chuvas.

O estresse vivido pela floresta em 2023 foi ligeiramente pior do que o vivenciado em 2015, conforme as medições do Atto.

“Com essas temperaturas [na altura ou acima da copa das árvores], a folha não funciona bem. A árvore transpira, e o nível de evapotranspiração é muito alto”, afirma Cléo Quaresma Júnior, professor do Instituto Federal do Pará e pesquisador do Atto responsável por medições micrometeorológicas.

“Há um prejuízo na capacidade de retirada de CO2 da atmosfera. E a emissão segue, a planta está o tempo todo respirando”, diz Quaresma.

A pesquisadora Hella van Asperen, que cuida no Atto de medições de concentração de gases de efeito estufa, afirma que os efeitos do El Niño ainda estão presentes.

“A floresta não teve tempo de se recuperar, e está chovendo menos. Vai ser um ano difícil”, diz Asperen, que atua no Amazonas. Ela também é pesquisadora de pós-doutorado do Instituto Max Planck de Biogeoquímica, na Alemanha.

As torres e equipamentos do Atto estão instalados na RDS (Reserva de Desenvolvimento Sustentável) do Uatumã, no Amazonas, a 150 km de Manaus. É uma área central da amazônia e pode ser compreendida como parte da Amazônia ocidental, onde a seca extrema de 2023 teve os efeitos mais severos.

Medições são feitas desde 2012, por meio de sensores diversos. As torres existentes estão num raio de 20 km na reserva.

Os cientistas buscam compreensões mais exatas sobre as trocas entre a floresta e a atmosfera. Para isso, há medições de meia em meia hora, diariamente. Um dos parceiros do projeto é o Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), sediado em Manaus.

Assim o Atto descreve o porquê de conduzir as pesquisas sobre essas trocas: “A amazônia é responsável por grande parte da fotossíntese mundial, armazena bilhões de toneladas de carbono e movimenta grandes quantidades de água. Porém, ainda estamos longe de compreender o papel da amazônia em um sistema terrestre em transição”.

Umidades mínimas do ar que beiram 30% —ou que chegam a pouco mais de 20%, como em setembro, a uma altura de 81 metros— são consideradas impressionantes para a floresta amazônica, na percepção dos cientistas envolvidos.

Esses pesquisadores ainda não têm uma resposta sobre a possibilidade de a reserva onde estão as torres se tornar de forma predominante uma fonte emissora de carbono na seca, e não um sumidouro. Eles esperam ter dados mais concretos sobre isso nos próximos meses.

Fonte: Folha de S. Paulo

www.contec.org.br

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