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BC mantém juros em 13,75% em primeira decisão após apresentação do arcabouço

postado Assessoria Igor

Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central não alterou sua estratégia nesta quarta-feira (3) e manteve a taxa básica de juros (Selic) em 13,75% ao ano, em sua primeira decisão após a apresentação do novo arcabouço fiscal pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Em tom conservador, o colegiado do BC voltou a dizer que a conjuntura demanda “paciência e serenidade” e manteve a mensagem sobre a possibilidade de voltar a elevar a Selic caso o processo de desinflação não transcorra como esperado, acrescentando que se trata de um cenário menos provável.

“Considerando a incerteza ao redor de seus cenários, o comitê segue vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação”, disse o BC no comunicado.

“O comitê reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.”

A autoridade monetária também disse que a reoneração de combustíveis e, principalmente, a apresentação da proposta de arcabouço fiscal reduziram parte da incerteza proveniente da política fiscal.

“Por outro lado, a conjuntura, caracterizada por um estágio em que o processo desinflacionário tende a ser mais lento em ambiente de expectativas de inflação desancoradas, demanda maior atenção na condução da política monetária”, ponderou.

O Copom reiterou que não há relação mecânica entre a convergência de inflação e a aprovação do arcabouço fiscal. O Congresso Nacional se prepara para discutir a proposta da nova regra –o texto foi entregue pelo governo aos congressistas no dia 18 de abril.

A decisão do BC veio em linha com a projeção consensual do mercado financeiro de que os juros ficariam estáveis pela sexta vez consecutiva –a terceira desde que Lula tomou posse.

Levantamento feito pela Bloomberg mostrou que essa era a expectativa praticamente unânime entre os analistas consultados –apenas um apostava em redução de 0,25 ponto percentual.

desaceleração da inflação indicada pelo IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15) em abril intensificou o debate público sobre a política monetária adotada pelo BC.

No cenário de referência do Copom, as projeções de inflação para este ano se mantiveram em 5,8% e, para 2024, em 3,6%. Em cenário alternativo, no qual a taxa Selic é mantida constante ao longo de todo o horizonte relevante, ou seja, em 2024, as projeções de inflação situam-se em 5,7% para 2023 e 2,9% para o ano que vem.

Para Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor do BC e presidente do conselho da Jive Investments, ao mostrar que a inflação de 2024 ficaria abaixo da meta se seu cenário alternativo se materializasse, a autoridade monetária sinaliza que vai cortar os juros em algum momento.

“Tudo tem o seu passo, o que ele [BC] precisa é ter as expectativas [de inflação] do lado dele. Elas foram muito contra e, nas duas últimas semanas, ficaram estáveis, mas ainda não melhoraram. Se elas melhorarem, abre um outro jogo para ele, uma antecipação”, afirma o economista, que projeta início de cortes em agosto.

O que possibilitaria uma melhora nas expectativas de inflação, na visão do especialista, é o governo “parar de brigar ou ficar em um tom mais morno” com relação à condução da política monetária pelo BC.

Na semana passada, o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, foi ao Senado em duas ocasiões para falar sobre o tema. As declarações dadas por Campos Neto não apaziguaram a tensão com membros do governo, que vêm pressionando a autarquia para diminuir os juros.

Na segunda-feira (1º), no Dia do Trabalho, Lula voltou a criticar o patamar da Selic, dizendo que a taxa de juros “controla, na verdade, o desemprego”. Em entrevista à Folha, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, chamou Campos Neto de “empata gol” na economia.

Em sua avaliação de riscos para a inflação, o BC elencou entre os fatores que puxariam os preços para cima, “a incerteza ainda presente sobre o desenho final do arcabouço fiscal a ser aprovado pelo Congresso Nacional e, de forma mais relevante para a condução da política monetária, seus impactos sobre as expectativas para as trajetórias da dívida pública e da inflação, e sobre os ativos de risco”.

O colegiado também incluiu a persistência das pressões inflacionárias globais e uma deterioração maior, ou mais duradoura, das expectativas de inflação para prazos mais longos.

Na direção contrária, o BC menciona novamente a queda adicional dos preços das commodities, a possibilidade de uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada, puxada pelas condições adversas no sistema financeiro global, e uma desaceleração na concessão doméstica de crédito maior do que seria compatível com o atual estágio do ciclo de política monetária.

Rodolfo Margato, economista da XP, classifica o tom do comunicado como neutro, considerando que não houve mudanças significativas em comparação com textos anteriores e nenhuma sinalização concreta de corte de juros no curto prazo. Para ele, o ciclo de redução gradual da Selic terá início a partir de agosto.

“Na nossa interpretação é um comunicado neutro, que não altera o prognóstico para cenário macroeconômico e talvez mude pouco a precificação de ativos financeiros”, disse.

O especialista chama a atenção para o trecho em que o Copom destaca a resiliência do mercado de trabalho, lembrando que os dados sobre a geração de empregos com carteira assinada em março vieram acima das expectativas.

Na parte fiscal, Margato observa que o BC reforçou elementos ditos anteriormente, bem como a importância de aguardar a tramitação do arcabouço no Congresso. “Houve uma redução parcial das incertezas, mas muitos elementos precisam ser monitorados de perto”, afirmou.

Apesar da decisão contrariar a vontade da ala política do governo, o especialista diz não trabalhar com uma escalada da pressão sobre a instituição. “Acho que vem essa reação, mas não o suficiente para alterar a projeção macroeconômica ou mesmo a postura da autoridade monetária”, disse.

Desde o encontro de março, as expectativas de inflação dos economistas continuaram se deteriorando e a atividade econômica mostrando força com o vigor do mercado de trabalho, apesar da política de juros.

Segundo o boletim Focus, pesquisa semanal do BC com analistas divulgada na última terça-feira (2), a projeção para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) do próximo ano avançou para 4,18% –já distante do centro da meta (3%). Para 2025 e 2026, as estimativas dos economistas estão em 4%.

Com 2024 na mira, o colegiado do BC volta a se reunir nos dias 20 e 21 de junho para recalibrar o patamar da taxa básica.

A reunião desta semana teve dois desfalques, com a saída de Bruno Serra, que deixou a diretoria de política monetária em 27 de março após o seu mandato ter expirado, e com a ausência da diretora de administração, Carolina de Assis Barros, por motivos pessoais.

O ciclo de alta da política monetária foi interrompido pelo Copom em setembro de 2022, depois de o BC promover o mais agressivo choque de juros desde a adoção do sistema de metas para inflação, em 1999.

Foram 12 aumentos consecutivos entre março de 2021 e agosto do ano passado, com elevação de 11,75 pontos percentuais. A taxa básica saiu de seu piso histórico (2%) até atingir o nível atual de juros –o mais alto desde o fim de 2016.

Folha de S. Paulo

www.contec.org.br

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